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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

02 jul

Preview de entrevista de Henrique Meirelles ao Jornal Opção mostra arrogância, mistificação e irrealidade de alguém que quer representar Goiás, mas não tem a menor identidade com o Estado

Em mais um lance de eficiência jornalística muito acima da média da imprensa em Goiás, o Jornal Opção entrevistou o ex-ministro e atual secretário de Fazenda de São Paulo Henrique Meirelles, hoje pretendente a uma cadeira no Senado Federal como representante do Estado com o qual nunca teve, não tem e jamais terá qualquer identidade – mesmo porque é alguém que se considera superiormente credenciado para a política nacional, muito acima das questões menores da terra onde nasceu.

Banqueiro que nunca foi dono de banco, Henrique Meirelles desceu de paraquedas na política goiana, comprando um mandato de deputado federal em 2002, que não exerceu por um único e miserável dia, atraído para presidir o Banco Central pelo então presidente Lula. Aliás, agora inventou, conforme o preview da entrevista ao Jornal Opção, que “muitos goianos saíram da pobreza naquele período em que eu estava no Banco Central. Tudo isso me posiciona bastante bem”, disse. E ainda relembrou, sem nada citar especificamente, “tudo aquilo que fizemos pelo Estado no Banco Central e no Ministério da Fazenda”, que ninguém sabe o que é.

Mas é uma falácia (falácia, leitoras e leitores, é a alternativa educada para “mentira”). No Banco Central, ele ignorou Goiás e se pautou por uma condução técnica, aliás corretamente tendo em vista as finalidades do cargo. Só que nem uma mãozinha ele deu para destinar recursos para o Estado ou ajudar qualquer um dos seus 246 municípios. Estava em um Olimpo e dele não desceu sequer para um “alô” aos seus conterrâneos. Se houve “goianos que saíram da pobreza naquele período”, isso se deve aos programas de aumento de renda do presidente Lula, contrariando as teses do PSDB, partido de Meirelles, de que reajustes salariais provocariam aumento do consumo e levariam a uma escalada inflacionária. Lula foi pródigo em aumentos do salário mínimo, sem medo do seu efeito cascata, que… não provocaram inflação.

Meirelles, se tivesse sido ouvido pelo presidente petista, teria sido contra, seguindo a cartilha liberal que professa. Fora isso, é um mistificador arrogante. Quer dizer: os “goianos que saíram da pobreza naquele período” teriam continuado na miséria no que dependesse do presidente do Banco Central, felizmente atropelado por Lula. Excluindo-se abundância de dinheiro para gastar na campanha para o Senado, que é o que de pior existe na política, não há nada que justifique a entrega a ele de um mandato tão importante como o de senador. Até Luiz do Carmo, na sua insignificância, é melhor.