Informações, análises e comentários do jornalista
José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

29 set

O que O Popular e Fabiana Pulcineli escondem sobre Mendanha, que faz uma gestão irresponsável em Aparecida, repleta de consultorias sem licitação e doações milionárias a entidades privadas e igrejas

O Popular e a jornalista Fabiana Pulcineli são peculiares: gostam de denúncias contra gestores públicos, mas não qualquer um, apenas aqueles selecionados pelos seus insondáveis critérios. Por exemplo: ignoram o que se passa na prefeitura de Aparecida, repleta de irregularidades por sinal semelhantes às que o jornal e a jornalista supostamente “investigativa” denunciam em outras esferas de governo, como a prefeitura de Goiânia e a proliferação de consultorias sem licitação depois que Rogério Cruz assumiu.

Consultorias, leitoras e leitores, são suspeitas por natureza. Indicam, quase sempre, manobras espúrias para o levantamento de dinheiro para bolsos privados. Iris Rezende, em suas gestões no Paço Municipal, não fez nenhuma. O governador Ronaldo Caiado, nos seus quase três anos de mandato, também não assinou uma única. Rogério Cruz, em menos de oito meses como prefeito da capital, propôs várias, sempre sem licitação, ao arrepio da moralidade e da lisura que a sua administração deveria obedecer.

Em Aparecida, as consultorias se multiplicaram depois que Mendanha assumiu. Em cinco anos e oito meses de gestão, ele assinou 191 contratos com dispensa de licitação e 68 baseados em inexigibilidade, um recorde nacional. Muitos envolvendo consultorias contáveis e financeiras, com objetos difusos e difíceis de serem delineados. E sempre em valores elevados. Onde estão os repórteres “investigativos”, como Fabiana Pulcineli, que não escrutinam essas operações? Um escritório de contabilidade de Trindade, desconhecido, foi contratado por Mendanha para auditar as despesas do hospital municipal desde 2018, com a obrigação de colocar 13 profissionais à disposição, só que, mesmo assim, não foi localizada nenhuma irregularidade, enquanto as Polícias Civil e Federal desencadeavam as Operações Parasitas e Falso Positivo, desnudando num antro de corrupção dentro do HMAP. E o Ministério Público Estadual? Calado.

Mendanha é candidato a governador. Isso, obrigatoriamente, deveria defini-lo como alvo de reportagens analíticas sobre a sua gestão, se é que O Popular tem algum compromisso com os interesses da população goiana. A gestão em Aparecida deveria ser trespassada criticamente, para mostrar o potencial que o prefeito tem, do ponto de vista administrativo, para uma gestão do porte e das exigências de um ente como o Estado de Goiás. Nos últimos 60 dias, o veículo da família Câmara, que não produziu um único jornalista em seus mais de 80 anos de existência, publicou 10 entrevistas de página inteira com Mendanha, inclusive nesta quarta, 29 de setembro. Todas efusivas, sem nenhum questionamento sobre os seus atos à frente da prefeitura, que deveriam ser a medida para a candidatura a governador a que se propõe.

Mendanha está atolado em um mar de corrupção. O HMAP é só a ponta do iceberg. Os contratos de consultoria, tão ao gosto da repórter “investigativa” Fabiana Pulcineli, são escandalosos. As doações em dinheiro vivo, idem. A cooptação da oposição, via nomeação de presidentes de partidos e de toda a classe política de Aparecida em cargos sem expediente na prefeitura, sinalizam para uma das maiores iniquidades com dinheiro público jamais vista em Goiás. Isso não tem interesse jornalístico?

O “menino de Aparecida”, como Mendanha chama a si mesmo, não tem nada de menino. É uma raposa envelhecida da política, versado no provincianismo e no paroquialismo da cidade que (des)governa, onde falta tudo e nenhum desafio é resolvido à altura. Também não cumpriu nenhuma das promessas que fez, nem na campanha para o primeiro mandato nem quanto ao segundo. Isso deveria gerar uma avaliação, já que ele, um dos piores prefeitos da história das grandes cidades de Goiás, se propõe a governador Goiás. O Popular vai aceitar isso calado e omisso?