Informações, análises e comentários do jornalista
José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

14 jan

Matéria de O Popular sobre viagem de Mendanha a Goianésia (em horário de expediente, frise-se) é incompatível com os fatos e força a barra para mostrar capacidade de articulação do prefeito

De uma matéria jornalística, o melhor que se pode dizer é que tudo o que foi publicado é verdade. No caso da “cobertura” de O Popular sobre uma visita do prefeito de Aparecida Gustavo Mendanha a Goianésia, em horário de expediente, frise-se, o que cabe é exatamente o contrário, ou seja, que tudo o que foi publicado… é mentira.

A começar pelo título, que chama a atenção para um suposto encontro do prefeito com “importantes lideranças”, uma adjetivação e uma generalização que deveriam envergonhar os responsáveis pela edição do jornal cuja família de proprietários não tem nem nunca teve um único jornalista, só comerciantes e empresários. Importantes lideranças? Mendanha teve como anfitrião um certo Emerson da Auto Vip, garagista de carros que já se candidatou a prefeito de Goianésia e não passou de 4 mil votos em um universo de quase 35 mil eleitores.

Foi esse Emerson da Auto Vip, liderança longe de ser “importante” na cidade ou na região, quem organizou a recepção a Mendanha em Goianésia e não, como noticiou O Popular, o conselheiro Frederico Jayme nem muito menos qualquer membro da família Lage (do ex-governador Otávio Lage). Essa, aliás, tem sido a essência da “campanha” do prefeito de Aparecida no interior: reuniões em garagens de casas, títulos arranjados de cidadania e encontro com políticos do 3º ou 4º escalão, a exemplo do vendedor de carros Emerson da Auto Vip. O ex-prefeito Gilberto Naves, emedebista, um homem sério e educado, foi convidado e compareceu, limitando-se a cumprimentar o visitante. Fabiana Pulcineli o entrevistou e tentou arrancar uma declaração favorável a Mendanha ou uma crítica ao acordo do governador Ronaldo Caiado com o MDB, em vão. Naves não se comprometeu.

Mas a maior falta de qualidade jornalística na matéria de O Popular está no final. Fabiana Pulcineli perguntou e Mendanha respondeu que sua presença é necessária em Aparecida, por causa dos estragos causados pelas chuvas (a coisa está feia lá), mas que, mesmo assim, seguirá cumprindo agenda em outros municípios “nos finais de semana”. É pura mentira e a própria viagem a Goianésia, objeto, estava se dando em horário de expediente. A repórter fingiu que não sabia. Mendanha tem sido recorrente nesse costume nefasto para Aparecida: na semana passada, no dia de Reis, 6 de janeiro, uma quinta-feira, foi para Quirinópolis para participar de uma fol. Os dois eventos, em Goianésia e em Quirinópolis, foram escondidos em suas sempre tão ativas redes sociais, porém ultimamente nada postando sobre os passeios para fazer política pelo interior a fora.

Na redação de O Popular, existe um consenso: todo e qualquer candidato de oposição deve ser fortalecido. No momento, o beneficiário é Mendanha, mesmo às custas da credibilidade do jornal. Isso é uma herança dos tempos em que Luiz Fernando Rocha Lima, o Nando, era o todo-poderoso da área de jornalismo. Nando tinha ideias esdrúxulas sobre política, como, por exemplo, a de que bastaria um único paciente ser desatendido em um hospital da rede pública para que se decretasse a falência de toda a rede de Saúde. Ou a recusa em noticiar projetos de governo, alegando que seriam só intenções e que nada garantiria que seriam cumpridos. E ainda que um apenas buraco em uma rodovia serviria para comprovar a má conservação de toda a malha viária. Hoje, depois de demitido, Nando vive o otiosum cum dignitate na casa de uma filha nos Estados Unidos, já que não encontrou quem o empregasse em Goiás. Mas sua herança perniciosa ainda persiste no suposto mais poderoso veículo de imprensa do Estado.