Marconi salta no abismo com a candidatura ao Senado, em um gesto de imprudência no momento em que precisaria de uma vitória (garantida para deputado federal) para ressurgir politicamente
O senador Jorge Kajuru não esperou esfriar o noticiário sobre as convenções partidárias em Goiás para desencadear a temporada de caça ao tucano: foi para a imprensa avisar que fará campanha para o Delegado Waldir, como candidato a senador, com o objetivo de impedir a eleição do ex-governador Marconi Perillo: “Não me sentarei ao lado de porcos no Senado Federal”, avisou Kajuru. Sinal de que vem aí, especialmente pelas redes sociais onde o senador é rei, uma artilharia pesada contra Marconi. Kajuru não brinca em serviço.
É só uma primeira manifestação provocada pelo anúncio da decisão de Marconi em concorrer à vaga senatorial disponível neste ano por Goiás. Seguir-se-á, como diria o ex-presidente Michel Temer, um tsunami. Colocando um alvo na testa ao abrir mão da segurança de um mandato garantido na Câmara Federal, ao contrário do que fez seu colega Aécio Neves em Minas, onde, a propósito, liderava as pesquisas senatoriais e mesmo assim resolveu postular a certeza de uma deputança em Brasília, o ex-governador imprudentemente resolveu saltar no abismo e se lançar ao Senado, enfrentando a sua monumental rejeição entre o eleitorado estadual. Pode dar certo, mesmo porque, no momento, está à frente dos adversários em todos os levantamentos de intenções de voto, embora com uma vantagem pequena e pouco tranquilizadora, sugerindo que as coisas também podem dar… muito errado.
Marconi repete que, em matéria de eleições, sempre foi corajoso. Pelo menos em 1998, assim o foi, embora estivesse antecipadamente protegido por uma indicação para o alto escalão do governo federal (na época, o presidente era Fernando Henrique Cardoso, do PSDB) em caso de derrota. Surpreendeu, vencendo Iris Rezende. Só que, anotem aí leitoras e leitores, nada havia a perder, quanto a Marconi, qualquer o resultado daquele pleito. Agora, há tudo a escorrer pelo ralo, caso derrotado. Será destruído.
Lideranças com o peso de Marconi não colocam seu futuro em risco: sua absolvição, depois do massacre eleitoral de 2018 e dos escândalos policiais, necessitaria de tempo e de vitória nas urnas. Essa, através do alívio de um mandato de deputado federal, como faz Aécio Neves, que repete 2018 e segue a recomendação da cartilha da sobrevivência política. E tempo, aguardando sentado em uma cadeira da Câmara Federal a chegada de 2026, quando talvez possa recuperar as chances de visar o governo do Estado.
Bem, se ganhar para o Senado esse desafio seria resolvido com brilho. Claro. Mas… tem o “se”. Há reticências demais na condição de Marconi como paciente ainda em recuperação depois da catástrofe de quatro anos atrás que o levou à UTI. Além disso, jogadores experientes não colocam todas as suas fichas em uma única aposta. Ou todos os ovos na mesma cesta, como exemplifica pela segunda vez Aécio Neves, evitando o perigo de concorrer ao Senado mesmo classificado em primeiro nas pesquisas e preferindo correr atrás de uma cadeira na Câmara Federal.
Candidato ao Senado, Marconi está praticando uma espécie de roleta russa. O revólver que apontou para a sua própria cabeça tem 3 ou quatro balas no tambor. Aproximou-se do suicídio político, por precipitação desnecessária, ao ceder à vaidade, não olhar para a frente e subestimar o terreno pantanoso em que caminha desde 2018. E, se fizer a campanha equivocada que fala do passado e esquece o futuro, como é a sua tendência, tentando um comparativo dos seus governos com o de Ronaldo Caiado, aí é que não terá escapatória. Será um adeus à política.