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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

17 ago

Ao iniciar a sua campanha em Goianésia, Marconi mostra que o juízo finalmente subiu à sua cabeça e deixa claro também o tamanho do prejuízo de Mendanha ao recusar aliança com ele

O ex-governador e agora candidato ao Senado Marconi Perillo começou a sua campanha, como sempre, por Goianésia, terra também de um dos seus dois suplentes milionários – Jales Fontoura, da família Lage. No discurso, Marconi mostrou que finalmente uma boa dose de juízo subiu à sua cabeça, isto é, não gastou o tempo todo falando do passado e das suas realizações no governo nem mostrou agressividade com ataques exagerados ao governador Ronaldo Caiado, que não é seu concorrente, sabe-se. Com efeito, não é conveniente espantar os votos caiadistas, uma vez que sem uma parte deles ninguém se elegerá para o Senado neste pleito.

Em 2018, o tucano foi derrotado entre outros motivos por só falar das obras e programas que teria implantado, esquecendo-se de que não era postulante ao Executivo. Indo além, foi tomado de insegurança e em muitas ocasiões chegou a exigir o sufrágio das goianas e dos goianos em retribuição pelo feitos das suas quatro gestões. Ficou célebre, na época, um vídeo da ex-primeira-dama Valéria Perillo cobrando o alinhamento do eleitorado com a defesa do “legado” do seu marido, que, não à toa, terminou o páreo em 5º lugar. Por que é que as goianas e os goianos se sentiriam a obrigação de salvaguardar Marconi com os seus votos, tal qual coagia madame?

O discurso de Goianésia mostra que o ex-governador se reciclou, para o próprio bem dele. Pelo menos nos trechos que ouvi, manteve um nível elevado e abordou pouco o que já ficou para trás, levantando algumas propostas para o seu trabalho se conquistar o Senado. Aí, sim. Esse é o caminho correto, parece ter entendido. E está certo. Eleitora e eleitor não votam com os olhos no retrovisor e sim dentro de uma perspectiva de futuro, afinal o que está em jogo são mandatos que ainda serão cumpridos, não os que já foram.

Na arenga de Marconi, dá para notar que ainda restam sobras do trauma que foi a eleição perdida de 2018. Estão lá, embora com menos ênfase, a visão de uma conspiração que imerecidamente o teria empurrado para o precipício do qual ensaia se reerguer e a convicção de que foi injustiçado por forças externas e não por si só jogado no abismo por uma notável coleção de erros, tudo embrulhado em uma soberba perniciosa, como, de fato, ficou demonstrado quando as urnas cantaram o resultado da votação.

Agarrado ao pretérito e a essa estória de “legado” e de “fui eu que fiz”, Marconi não irá longe. Esse cobertor é curto para as agruras da campanha. Ele também não deveria cutucar a memória do povo insistindo em recuperar a lembrança das suas obras e das suas gestões, mesmo, porque, junto virá o lado B com os escândalos e os casos inexplicáveis de desvios de recursos que ficam melhor, para ele, enterrados debaixo da grande pedra do tempo. Por isso, foi razoavelmente bem em Goianésia – onde reuniu uma multidão e um público de peso, deixando evidente o tamanho do prejuízo que Gustavo Mendanha engoliu ao recusar uma aliança, formal ou informal, com o tucano e o seu PSDB. Desde quando deu partida à aventura de se candidatar ao Palácio das Esmeraldas, Mendanha nunca foi ouvido – vejam bem: nunca – por um público tão amplificado. E não será, até 2 de outubro, dentro da solidão eleitoral e política em que está metido.