Candidatura de Jânio Darrot perde o fôlego e fica sem espaço
Depois de uma introdução gloriosa no palco da sucessão municipal em Goiânia, nada mais nada menos do que pelas mãos do governador Ronaldo Caiado, com direito a mais de 2 meses de exposição na mídia, a candidatura a prefeito do ex-prefeito de Trindade, ex-deputado e megaempresário Jânio Darrot perdeu o fôlego e vive um instante de asfixia. A trajetória meteórica de Jânio como nome possível para representar a base do Palácio das Esmeraldas nas eleições do ano prestes a chegar esgotou-se depois da incidência de dois fatores combinados: a atração de apoio nenhum e uma enxurrada de erros provocados por declarações infelizes do próprio interessado, como a de ter ouvido do presidente estadual do MDB e vice-governador Daniel Vilela que já estava antecipadamente escolhido por Caiado para carregar a bandeira dos partidos da base aliada na corrida pelo Paço Municipal.
Darrot autogerou a sua inviabilidade. Deu azar de ter como concorrente justamente um dos políticos mais prestigiosos de Goiás no momento, ou seja, o presidente da Assembleia Bruno Peixoto, um filho de Goiânia que desenvolveu a sua carreira na capital e passou a crescer nas pesquisas após naturalmente lembrado para concorrer. Bruno pilota um complexo de poder formado por um orçamento anual de R$ 1 bilhão, cerca de 4.500 funcionários, 41 deputados, conexões com a maioria dos vereadores e uma visibilidade automática simplesmente espetacular – com manchetes diárias na mídia estadual. Trata-se de uma máquina difícil de enfrentar, coroada pelas habilidades e qualidades pessoais do líder do Legislativo, no momento talvez o político goiano em melhor fase virtuosa, perdendo apenas para o governador Ronaldo Caiado e seus 76% de aprovação popular.
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Desde o chamamento ao gabinete de Caiado para tomar conhecimento de uma pesquisa qualitativa realizada entre as goianas e goianienses, apontando para 2024 a preferência por um candidato a prefeito com perfil de gestor já testado, experiente e amadurecido (o levantamento citava até uma possível vantagem para quem, atendendo a essas características, tivesse mais de 60 anos). Em teoria, não há dúvidas sobre o enquadramento de Jânio. Com perfeição. Ele foi bem-sucedido em dois mandatos em Trindade, além da inequívoca contribuição do seu fenomenal êxito empresarial no setor de confecções para a sua imagem, depois de começar a vida com duas máquinas de costura e transformar-se em uma das maiores fortunas de Goiás.
Pessoa de bem, decente, honesto, humano no trato com seus funcionários e com a população carente, Darrot perdeu-se pela projeção literal desses atributos positivos na orientação dos seus movimentos iniciais em um campo minado como o dos bastidores das eleições em Goiânia, onde se exigem passos calculados e controle de cada gesto e ação (e isso sem falar na campanha futura, com a pressão dos debates e o confronto diário entre os postulantes). Falou demais e cavou uma sepultura funda, constrangendo interlocutores de primeira grandeza vitais para encaminhar uma candidatura no colégio eleitoral número um do Estado, como Caiado e Daniel Vilela. Em resumo, não é exagerado metaforizar: Jânio arrancou bem a partir do impulso tomado na Praça Cívica, para derrapar e capotar nas curvas logo adiante, ao revelar falta de perícia para segurar o volante. Esqueceu-se de que um projeto majoritário de enfrentamento nas urnas não se faz de cima para baixo, mas através de uma construção lateral (coisa para a qual não deu a mínima bola).
Há esperança de retomada para Jânio Darrot? Em política, é improvável conseguir superar descuidos e escorregões consecutivos, ainda mais quando sinalizam para a possibilidade de repetição em decorrência de uma personalidade quem sabe inocente para um meio a requerer doses cavalares de maquiavelismo (do tipo pragmático, não o maldoso vulgarmente imputado a Maquiavel). Jânio não hesitou em colocar para fora o ouvido em segredo e desencadeou reações duras publicamente, desgastando seus potenciais parceiros. Atirou detritos no ventilador. Por isso, pode ser que não existam chances de volta. É como, em um jogo de tabuleiro, recuar 10 casas enquanto os competidores saltam 10 à frente. Criou-se, por ora, um abismo entre ele e Bruno Peixoto, com potencial para repercutir negativamente, caso não seja preenchido, até em 2026. Tanto que, de olho no prejuízo, Caiado foi obrigado a sair do seu Olimpo para intervir e decretar o adiamento da conversa toda para fevereiro vindouro, colocando uma pedra para prevenir novas fissuras. Ou uma cruz.