Bolsonarismo tem força em Goiás, mas esbarra na enorme aprovação de Caiado
O bolsonarismo é uma força política que adquiriu influência em Goiás, mas – atenção: não é suficiente para furar um determinado limite e, por exemplo, contar com chances concretas para vencer eleições importantes, como já se viu na candidatura fracassada do então Major Vitor Hugo a governador, em 2022, e na derrota de Fred Rodrigues para a prefeitura de Goiânia e do Professor Alcides para a de Aparecida, em 2024. Coincidentemente, todas em cenários dominados pela liderança do governador Ronaldo Caiado, que venceu, ele próprio, em 2022, e com Sandro Mabel e Leandro Vilela, em 2024. A exceção foi a vitória de Wilder Morais para o Senado, em 2022, beneficiado por um cenário de pulverização entre oito postulantes de alguma expressão, tanto que Wilder sagrou-se vencedor com a menor votação proporcional da história, ou seja, menos de 800 mil votos em um colégio eleitoral de quase cinco milhões de goianas e goianos – de qualquer modo devendo o mandato ao bolsonarismo.
Wilder está na praça novamente, agora como interessado no trono da Praça Cívica. O bolsonarismo segue como seu único ponto forte, uma faixa do eleitorado estadual que a última pesquisa Genial/Quaest avaliou, há poucos dias, em 18% do eleitorado. Como se vê, um percentual claramente insuficiente para viabilizar, isoladamente, um bom resultado em um pleito em que o favoritismo pertence ao representante direto de Caiado, o vice-governador Daniel Vilela, liderando um projeto político que inclui desde já como escopo a continuidade de uma bem-sucedida gestão – de resto, aprovada por 88% da população, um índice que demonstra uma “quase unanimidade” a favor de Caiado, na definição do analista sênior da Quaest Felipe Nunes. E mais uma apuração da Quaest: para 73% dos entrevistados, Caiado merece eleger seu sucessor.
Daniel Vilela ainda carrega uma expressiva taxa de desconhecimento. Não se espalhou, por enquanto, a sua condição peculiar como candidato do peito Caiado. Esse privilégio não está massificado, mas ele, de qualquer forma, mesmo antes da inevitável ampliação da sua visibilidade, passa longe de ser um poste na corrida eleitoral de 2026. Para começo de conversa, estará durante a campanha no exercício pleno do cargo de governador, com a desincompatibilização do titular para desenvolver o seu projeto presidencial. Depois, seu DNA político é qualificado, não apenas como herdeiro do pai Maguito Vilela, como pela sua respectiva carreira iniciada como vereador em Goiânia, deputado estadual, deputado federal, candidato a governador em 2018 e finalmente vice em 2022. Por último, sua luz própria é inegável, reunindo preparo pessoal e experiência, acrescendo-se variáveis interessantes do ponto de vista das urnas como a juventude e a sua caracterização como símbolo de uma grande mudança geracional no Estado, depois de mais de 40 anos de revezamento entre Iris Rezende, Maguito Vilela, Marconi Perillo e agora Ronaldo Caiado. Parece alguém que chegará a 2026 no lugar certo e na hora certa.
Wilder Morais só conta com o combustível bolsonarista, mas nem isso é plenamente certo, pelo menos na medida em que ele carrega o desgaste de dissídios familiares públicos, coisa que os adeptos do ex-presidente abominam, principalmente os evangélicos, e também não tem substância alguma para defender a temática ideológica tão cara ao segmento liderado pelo prisioneiro de Brasília. Digamos que se trata de alguém intelectualmente mal equipado para o debate sobre as questões nacionais e estaduais, além de carente de uma justificativa para os seus quase 10 anos de “atuação” na mais alta Câmara Legislativa do país. O que ele fez e faz lá, afora ostentar seus caros ternos Ermenegildo Zegna, cujas etiquetas gosta de exibir para os colegas nas rodinhas em plenário? O próprio Jair Bolsonaro já reclamou da desutilidade política de Wilder para os seus interesses, ao ser informado de que o senador goiano vota com o PT em mais da metade (53%) dos projetos do governo, conforme levantamento do site Congresso em Foco.
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Vergando sob uma conjunção de muitos fatores negativos e um único positivo, Wilder ainda assim tem potencial de crescimento nas pesquisas, já que está abaixo dos 18% de bolsonaristas em Goiás. Segundo a Genial/Quaest, hoje ele alcança 10% das intenções de voto, atrás do ex-governador Marconi Perillo (com 22%) e do vice-governador Daniel Vilela, o 1º colocado, com 26%. Como Marconi está pressionado pela sua elevada rejeição e segregação política, Wilder tende a dar um chega-pra-lá e ocupar o seu espaço, com folga, para em seguida esbarrar na irreversível ascensão de Daniel como o candidato da continuidade de Caiado e da poderosa máquina governamental. Quem tem que se preocupar com o senador, portanto, é Marconi – se de fato Marconi terá a coragem necessária para se aventurar na disputa pelo Palácio das Esmeraldas e correr o risco de terminar disputando a 4ª vaga com o candidato do PT.