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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

29 set

Comemoração dos “30 anos de PSDB” de Marconi foi, na verdade, missa de réquiem

Missa de requiem ou missa pro defunctis. É como a Igreja Católica denominava, antigamente, a celebração litúrgica destinada a marcar o repouso eterno para as almas dos falecidos. E é também como deveria ser chamada a “comemoração” da semana passada, em um auditório da Assembleia Legislativa, no sábado, 27 de setembro, a propósito dos 30 anos da filiação do ex-governador Marconi Perillo ao PSDB. PSDB? Sim, ainda existe, porém nos seus estertores finais tanto em Goiás (reles 7 prefeitos, 2 deputados estaduais, 1 federal) quanto em termos de Brasil (nenhum governador, 3 senadores, 11 deputados federais). Quase todos, a propósito, estudando uma transferência de sigla para tentar sobreviver às eleições vindouras.

O PSDB, em resumo, é hoje um quase nada na constelação brasileira das agremiações partidárias, depois de se transformar em um buraco negro que sugou o brilho e a força das lideranças tucanas. Para Marconi, o que piora as coisas é que a decadência do PSDB se acelerou durante o seu mandato na presidência do diretório nacional, prestes a se encerrar melancolicamente em novembro próximo. O tucano de Goiás acabou no papel de coveiro da legenda, em uma das maiores debacles da história política do país, em se tratando de um aglomerado de lideranças, no passado, de alto calibre, com décadas de poder – só em Goiás foram praticamente 20 anos, enquanto em São Paulo chegou a mais de 30 anos.

Tudo isso virou pó. E é daí que vem a incredulidade diante da decisão de Marconi, anunciada no ato funéreo na Assembleia, quando proclamou “aceitar” o desafio de se candidatar novamente a governador, sustentando-se exclusivamente nos cacos do PSDB – sem alianças, sem nomes de peso ao seu lado, sem fundo partidário, sem sequer um minuto no horário gratuito do TRE, sem a mínima condição, enfim, de montar uma campanha viável. Para agravar ainda mais essas fragilidades, faltam propostas para convencer o eleitorado. Pelo que se viu no sábado, a ideia é ressuscitar o mote do “tempo novo”, que o caminhar dos anos converteu em tempo velho, e propor uma comparação entre as realizações de ontem e os avanços que o governador Ronaldo Caiado introduziu a partir de 2019. O que se tem é uma batalha perdida por antecipação.

 

 

Parece mentira, mas Marconi deixou claro que vai insistir no velhíssimo discurso da cobrança da gratidão da população por obras e programas já esquecidos e, de resto, superados pela gestão de Caiado. Sem falar em méritos, o atual governador comanda uma máquina azeitada de políticas públicas, baseada em um ajuste fiscal que transformou o Estado em superavitário, em muito superior a qualquer administração de antanho. Mesmo diante das devidas proporções, o caixa atual é pelo menos três vezes superior ao que Marconi gerenciou, o que dá a dimensão do quanto são mais variadas as oportunidades para obras, programas e iniciativas públicas em Goiás em relação ao “foi Marconi que fez”, mote nem um pouco original que os marqueteiros reviveram para embalar uma tentativa de fazer colar o “volta, Marconi” apresentado artificialmente nas exéquias tucanas do último sábado, 27 de setembro. Em 2022, atrás dos holofotes da mídia, ele também se lançou candidato ao Palácio das Esmeraldas, para desistir em agosto, dois meses antes da data das urnas.