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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

26 abr

Base de Caiado na Assembleia se esboroa antes mesmo do primeiro teste: como explicar que um governador que passou a vida no Parlamento não consiga respaldo dos deputados para o seu governo?

Mexeu para cá, mexeu para lá e deu em nada. Esse é o resultado de toda a anunciada e desgastante movimentação do governador Ronaldo Caiado na tentativa de formatar uma base de apoio na Assembleia Legislativa, inclusive com notícias públicas e constrangedoras sobre um “balcão de negócios” aberto para comprar o votos de deputados (é bom lembrar que a denúncia foi feita por um aliado de Caiado, o deputado Major Araújo). No final das contas, a tal base simplesmente não existe, deixando o governo estadual acuado contra a parede quanto aos projetos que necessita aprovar para levar adiante a mudança que foi prometida durante a campanha – caso da reforma administrativa, que, perto de se iniciar o oitavo mês desde que o novo governador foi eleito, continua na estaca zero, já que a sua remessa à apreciação da Assembleia traz o risco de uma rejeição.

 

Por enquanto, Caiado continua sem contar com qualquer respaldo parlamentar e isso deixa a sua gestão semiparalisada. O seu temperamento imperial o impede de adular os deputados ou sequer perder algum tempo conversando com eles. Vejam bem, leitora e leitor: Caiado, sobre si próprio, pensa que veio de cima para baixo, ou seja, do cenário nacional para a província. Não tem que perder tempo com picuinhas de deputados, nenhum deles interessado no sucesso do seu governo e unicamente agarrados aos seus interesses pessoais. Não confia neles e eles, por sua vez, também devolvem a desconfiança. Para os 41 membros da Assembleia, pouco importa que o governador tenha sido eleito para o Palácio das Esmeraldas em um inédito 1º turno e com mais de 60% dos votos dos goianos.

 

O presidente Jair Bolsonaro também está penando no relacionamento do governo federal com o Congresso. Caiado, tal como Bolsonaro, tem uma longa carreira parlamentar, mais de 20 anos atuando como deputado e senador. É de se estranhar que ambos enfrentem problemas com o Parlamento, justamente a área em que têm experiência e que conhecem como a palma da mão. No caso de Goiás, é preciso entender a personalidade do governador e o seu sentimento de superioridade e ideia de que é portador de desígnios quase divinos – a missão de reconstruir Goiás – que estaria muito acima de simples e defeituosos mortais como os deputados estaduais.

 

Caiado se esforçou para formatar uma base de apoio na Assembleia. Engoliu a sua própria palavra para abrir o “balcão de negócios” e ofereceu cotas de R$ 30 mil em nomeações, além de diretorias e superintendências, permitindo inclusive que os deputados indicassem parentes para esses cargos. O Diário Oficial não economizou tinta para a farra que se seguiu. O que não dá para entender é que, mesmo assim, o Palácio das Esmeraldas continua sem garantia de aprovação de matérias na Assembleia. Apesar das prebendas, os deputados, aparentemente, não gostaram do jeito como são tratados por um governador que foi parlamentar durante mais de 20 anos consecutivos.

 

Um grupo independente de 14 deputados foi formado, às margens dos interesses do Palácio das Esmeraldas. É uma espécie de “Centrão” estadual, que parece querer dominar as votações na Assembleia. Seu primeiro feito será empurrar goela abaixo do governador o orçamento impositivo de 1,2%, tornando obrigatório e automático o pagamento das emendas aprovadas pela Assembleia. É jogo jogado. Vai se transformar em realidade, logo, logo. E configurar mais uma derrota política para o governo.