Críticas de PX Silveira à Secretaria estadual de Cultura têm razão de ser: 3 meses depois que foi recriada, a pasta não mostrou a que veio e está dominada por uma visão convencional das artes
Um artigo publicado no Diário da Manhã, neste sexta, pelo presidente do Instituto ArteCidadania PX Silveira, sobre os meses iniciais do governo de Ronaldo Caiado quanto os movimentos artísticos em Goiás traz uma conclusão: não se justificou, até agora, a recriação da Secretaria de Cultura, dirigida pelo escritor Edival Lourenço(foto) – a quem, embora sendo reconhecida a sua integridade pessoal e capacidade intelectual, talvez falte a ousadia e até uma certa irreverência requeridas de quem ocupa um cargo que tem o papel de farol cultural para sociedade.
PX Silveira fala de uma grande exposição em Goiânia do pintor Tai Hsun-An, com mais de 170 obras, que não foi visitada até hoje pelo governador Ronaldo Caiado nem por ninguém da sua equipe, lamentando ainda que uma comitiva de empresários chineses tenha sido recebida no Palácio das Esmeraldas e não tenha sido convidada para a mostra – Tai Hsun-An nasceu na China e hoje está radicado em Goiânia, onde dá aulas na PUC.
Edival Lourenço explicou a PX Silveira que nem o governador nem os tais investidores chineses teriam tempo para apreciar as pinturas, já que ocupados com assuntos econômicos de importância para Goiás. O articulista registra também a indicação equivocada de novos nomes para o Conselho Estadual de Cultura, a exemplo do que aconteceu com o Conselho Estadual de Educação, em ambos os casos escandalosamente carecendo de sintonia com os objetivos de cada um desses colegiados. E mais alguns episódios parecidos em essência e forma, todos negativos.
Em meados do século 19, o Salão de Paris recusou as primeiras obras dos pintores impressionistas, que mais tarde conquistariam o mundo. Da mesma forma, o Museu de Arte de Moderna de Nova Iorque, nos anos 60, devolveu uma obra de Andy Warhol sobre Marilyn Monroe que logo se transformaria em ícone mundial. Quer dizer: mesmo com os condicionantes de cada momento histórica, faltou visão e, de certa forma, a ousadia e irreverência, tão próprias ao meio artístico, que Edival Lourenço, mal comparando, não tem nem nunca terá, devido à sua formação tradicionalista (e não há nada de errado nisso), porém poderia suprir com assessoria adequada e até mesmo, por que não?, um pouco de humildade. A Secretaria estadual de Cultura, recriada por Caiado, ainda não disse a que veio e poderia muito bem, com um custo menor, continuar funcionando como departamento da Secretaria de Educação. Não é possível afirmar que o seu titular, se tivesse a oportunidade, recusaria as peças revolucionárias dos impressionistas e de Andy Warhol, mas essa é uma lição que não pode esquecida e para a qual alerta o artigo de PX Silveira no DM. Três meses ou um pouco mais, como secretário, já deveriam ter sido suficientes para que Edival Lourenço apontasse um rumo e não apenas deixasse que a recriação vazia da pasta ficasse como única e isolada ação de Caiado a favor do setor cultural em Goiás. É pouco ou igual a nada.