Informações, análises e comentários do jornalista
José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

29 ago

“Prova” apresentada por Caiado para fundamentar acusações a Marconi é incompatível com o Estado de Direito e apequena uma autoridade que deveria ser referência e exemplo para Goiás

Desafiado pelos jornalistas da rádio Sagres a apresentar comprovação para as acusações que continua repetindo contra o seu antecessor Marconi Perillo, a de que seria “chefe de quadrilha” e também que “assaltou Goiás”, o governador Ronaldo Caiado explicou: “Ele não foi preso? Ele não é presidiário? Se ele foi preso não é porque estava rezando, estava roubando”, voltou a afirmar mais uma vez.

 

Bem, leitora e leitor: o que Caiado disse não é “prova” de nada, muito menos das graves imputações que lançou contra o ex-governador. Prisões injustas acontecem toda hora – e a de Marconi parece ter sido uma delas, já que durou apenas 24 horas em razão de ter sido rapidamente anulada rapidamente pelo Superior Tribunal de Justiça, onde o juízo monocrátivo enxergou excesso na ação da Polícia Federal que restringiu a sua liberdade. “Presidiário” muito menos o tucano foi ou é. Presidiário é quem está cumprindo pena em um estabelecimento penitenciário, o que não é o caso de Marconi. E , por fim, argumentar que, se alguém é detido, seria “estava roubando”, é pior ainda. Há investigações, sim, em andamento, e pelo menos uma na esfera judicial, mas elas tanto podem resultar em declaração de culpa quanto de inocência. Caiado sabe de tudo isso.

 

Um governador de Estado deveria ter noção da compostura do seu mandato e não recorrer a uma lógica de botequim  contra adversários que, no final das contas, atenta contra o direito constitucional de qualquer pessoa quanto a ser presumido inocente até condenação transitada em julgado. Ou de ser acusado mediante evidências sólidas. Mais conveniente e condizente com a autoridade de Caiado teria sido ele assumir que estava expressando a sua opinião pessoal, mesmo se arriscando – como se arrisca – a responder a processos por calúnia, injúria e difamação (pelo menos o de crime de calúnia, ao atribuir a Marconi um crime tipificado no Código Penal, o governador cometeu). E mencionando corretamente que existem suspeitas, em apuração nos órgãos competentes.

 

Quem ocupa cargos públicos de importância, especialmente eletivos, serve de referência e de exemplo para a sociedade, sempre. Não é aceitável que assuma um discurso público pautado por uma língua de trapo ou uma boca do inferno. Afinal, até crianças escutam, vêem ou lêem o que os governantes dizem, em alguns momentos aprendendo ou desaprendendo) com isso. Não, coisas assim não podem acontecer em um corpo social que vive uma democracia e o pleno Estado de Direito. E a cada vez que Caiado insiste ou retorna a esse falatório, quem se apequena é ele e não Marconi.