Bacia do rio Meia Ponte é, para Caiado, o mesmo que a Amazônia para Bolsonaro: uma região onde deve prevalecer os interesses do agronegócio e não uma área valiosíssima a ser preservada
Assim como o presidente Jair Bolsonaro errou gravemente na sua abordagem sobre a Amazônia, despertando uma reação internacional que pode comprometer até as exportações brasileiras e ameaçando a preservação de um riquíssimo patrimônio nacional, o governador Ronaldo Caiado também se equivocou e deu alguns passos atrás em relação à situação que recebeu das administrações passadas que tanto critica, no caso da bacia do Rio Meia Ponte – a mais importante do Estado, dado a concentração demográfica da região que abrange.
Logo depois de assumir, Caiado mudou as regras para a preservação do Meia Ponte e seus afluentes. Ele, com o propósito de beneficiar o agronegócio, revogou um decreto do então governador Marconi Perillo que estabelecia exigências severas para o licenciamento ambiental de empreendimentos dentro da bacia do rio. Na prática, transformou a região em terra de ninguém. A secretária estadual do Meio Ambiente Andrea Vulcanis, uma procuradora federal que o governo trouxe de fora, sem nenhum conhecimento sobre Goiás, defendeu a medida e foi até adiante, propondo o cancelamento das multas aplicadas na área da bacia, até hoje, e defendendo que ninguém mais fosse multado, em troca de uma estratégia de conscientização baseada – conforme definiu ironicamente o jornal O Popular – em um pedido de “por favor” aos empreendedores instalados ao longo do Meia Ponte para que não prejudicassem mais o curso d’água.
Uma piada. O resultado é o que se vê agora nas manchetes dos jornais. O nível de vazão do Meia Ponte, que tem a ver com o abastecimento de água de Goiânia, chegou ao ponto crítico número 3, à beira do número 4, quando será necessário um racionamento para os consumidores da capital – algo que nunca houve até hoje e que jogará o governo Caiado em um nível elevado de impopularidade. Isso, em última análise, significa que o abastecimento de água dos goianienses está na dependência da antecipação das chuvas. Se água não cair do céu a tempo, a situação será dramática. As torneiras só poderão ser abertas um dia sim outro não.