Informações, análises e comentários do jornalista
José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

10 set

Vai demorar, porque a Justiça é lenta no Brasil, mas processos contra Marconi tendem a ter um desfecho favorável a ele. E junto Jayme Rincón. Pode ter havido excessos e isso terá reflexos em Goiás

Em condições normais, o governador Ronaldo Caiado seria e é o ator número um do atual sistema de poder em Goiás, pela importância do seu cargo, mas, em segundo lugar, estaria o ex-governador Marconi Perillo – maior potência da política estadual nos últimos 20 anos, desde que venceu espetacularmente Iris Rezende nas eleições de 1998. Ocorre que, no momento, Marconi encontra-se submetido por um cerco judicial – mas, vejam bem, leitora e leitor, isso pode demorar a ser resolvido, sim, é claro, a Justiça brasileira é lenta (e portanto injusta), porém no final das contas o resultado pode ser favorável ao ex-governador e, por correlação, ao ex-presidente da Agetop Jayme Rincón, principal articulador dos tucanos nos últimos anos de governo e parceiro de Marconi nas acusações de conduta irregular.

 

O principal processo a que Marconi e Rincón respondem tem a ver com supostas propinas pagas pela Odebrecht. Vamos lá: os delatores da empreiteira que deram essas informações fizeram questão de frisar que, ao contrário de outras situações pelo Brasil afora, a construtora não recebeu nenhuma contrapartida. Nenhuma. Isso é suficiente para caracterizar o episódio apenas como caixa 2 de campanha, que, na época, não era tipificado como delito. O Código Penal é objetivo: não há crime sem lei anterior que o defina. Judicialmente, não à toa, o procedimento foi encaminhado para a Justiça eleitoral, em uma derrota marcante para os persecutores, ou seja, o Ministério Público Federal.

 

O Superior Tribunal de Justiça considerou a prisão de Marconi, no curso das investigações da Polícia Federal sobre as propinas da Odebrecht, como abusiva e determinou a sua libertação menos de 24 horas depois de decretada por um juiz federal de 1ª instância. Tudo isso concorre a favor do tucano-mor de Goiás e do seu braço direito Jayme Rincón, este, aliás, já tendo reconhecido que houve a manipulação de recursos com destinação eleitoral, o tal caixa 2 e não corrupção. Lembrando: caixa 2 não era crime na época.

 

Os vazamentos da Lava Jato têm mostrado que a Operação, as vezes, não caminhou sob critérios republicanos. Isso pode ter acontecido em Goiás. Uma coisa é falatório, outra fatos processuais. Aparentemente, não há uma peça acusatória cabal e capaz de inquinar Marconi e Rincón de crimes acima de qualquer dúvidas. Existe um espaço de incerteza. De resto, Caiado tem feito denúncias pesadas contra o seu antecessor, mas sem apresentar provas e limitado a um mero discurso motivado por questões pessoais, como as críticas à interferência da primeira dama Gracinha nas ações de governo. Não há nada de concreto. Faltam documentos, pontos incontrastáveis.

 

A banca de advogados que defende Marconi e Jayme Rincón tem absoluta segurança de que o desfecho será favorável a eles dois. Se assim for, será uma bomba, com desdobramentos revolucionários sobre a política estadual. É esperar para ver.