Servidores não são nem podem ser bodes expiatórios do Estado, mas as regalias de que desfrutam em detrimento dos 7 milhões de goianos criaram uma casta de privilegiados e são inaceitáveis
Ainda que de forma tímida, por conta até agora de sindicatos como o Sindifisco, que têm bala para gastar (leia-se: dinheiro em caixa), a reação dos servidores públicos contra a reforma da previdência está sendo marcada por um discurso passionalizado e totalmente afastado da racionalidade que deveria ser a marca de um debate tão importante quanto esse para Goiás.
Não é possível que toda a estrutura financeira de um Estado seja direcionada para pagar salários e vantagens ao seu funcionalismo. Vejam bem, leitora e leitor: com todas as medidas restritivas que adotou, redução de cargos comissionados e suspensão de concursos e admissões a qualquer título, a despesas do governador Ronaldo Caiado com a folha de pagamento tiveram uma expansão de pouco mais de 12%, de janeiro até agora, por conta do chamado crescimento vegetativo. Isto é: os gastos com pagamento dos salários dos servidores sobem automaticamente, a cada mês, mesmo sem o aumento do seu contingente e sem reajustes, a não ser o acréscimo do pacotão de benefícios que são atribuídos a eles com base em uma visão antiga e superada da carreira.
Isso, infelizmente, não tem lugar mais no Brasil, assim como não cabe mais no serviço público a estabilidade sem contrapartida, os vencimentos reforçados pelos penduricalhos que estouram o teto constitucional e, o principal, as aposentadorias sem correspondência com as contribuições feitas ao longo do exercício do cargo. No plano federal, essas situações estão sendo superadas aos poucos, a começar pela recém aprovada reforma da previdência e agora pelo iminente pacote de desmonte da cascata de benesses que turbinam os salários dos servidores da União.
Goiás tem sete milhões de habitantes. O Estado carrega nas costas uma folha de 130 mil funcionários, com o número de inativos já superando o de ativos, absorvendo 86% da receita líquida – e que se dane o restante da população. Isso não é correto e não pode continuar. Caiado foi eleito com uma votação recorde, em 1º turno, o que representa uma credencial para empreender as reformas indispensáveis para livrar as goianas e os goianos do modelo administrativo de desequilíbrio entre o que entra e o que sai dos cofres públicos. Ele ganhou das urnas muita gordura para queimar. É seu dever e sua obrigação encarar esse desafio, que traz desgastes e talvez até alguma impopularidade, porém será reconhecido no futuro, e ele o está fazendo. É assim que governantes que querem passar à História agem.