“Cientistas políticos” ouvidos por O Popular propõem submissão do Estado a empresários e servidores e dizem que, para deslanchar como governador, Caiado precisa deixar de ser Caiado
A jornalista Fabiana Pulcineli tem uma antiga obsessão por governantes que deixaram o poder e são alvo da indispensável revisão histórica sobre o que fizeram, especialmente quanto aos erros. Foi assim que ela condenou Marconi Perillo quando assumiu o poder após a gestão de Alcides Rodrigues e passou meses e meses falando mal do seu antecessor. O que ela dizia de Marconi é o mesmo que fala agora sobre o governador Ronaldo Caiado, a quem acusa de se preocupar excessivamente com o passado e a quem nega o direito de expor a situação de calamidade financeira e administrativa que herdou – o que seria revanchismo, palavra que a dona repórter não usa, mas conceitua sem a menor hesitação.
Sendo apaixonada pela hipótese, que expôs com clareza em uma “palestra” há poucos dias no escritório do advogado Dyogo Crosara, Fabiana Pulcineli foi atrás dos fundamentos que poderiam justificá-la: arrebanhou dois “cientistas políticos”, Robert Inácio, da UFG, e Itami Campos, da UniEvangélica, para fornecder argumentos à tese de que Caiado deveria parar de criticar as administrações anteriores e se concentrar em “deslanchar” o seu governo. O resultado foi uma matéria ridícula na edição de estreia de O Popular que, aos sábados, valerá também para os domingos – mais um passo largo rumo ao inevitável fim do jornalismo em papel em Goiás.
A primeira pergunta que se faz, ao começar a ler os despautérios alinhados no texto, é simples: por que denunciar a corrupção e os graves equívocos dos governos que se foram seria um erro ou uma atitude a abandonar? Por quê? Ao contrário, mais correto é dizer que se trata de uma obrigação e de um dever de qualquer governante. Ou Fabiana Pulcineli e seus especialistas estariam postulando que Caiado varra o lixo para debaixo do tapete, cometendo, assim, um grave crime de responsabilidade ou então escondendo a verdade da população? Será que esse conselho é válido também para o Tribunal de Contas do Estado e para o Ministério Público? Ou para a Polícia Civil também?
Não tem cabimento. Onde essa jornalista e esses professores estão com a cabeça? E um jornal, tido como o mais importante do Estado, que assume em manchete essa besteira? Mas tem mais. Essa trinca – veículo, repórter e “cientistas políticos” – propõe ainda que Caiado deixe de lado o que minimizam como “acusações” e se preocupe em fazer o seu governo “deslanchar”. Isso depois que o governador venceu ações no Supremo Tribunal Federal aliviando a difícil situação financeira que encontrou ao assumir, aprovou reformas que nunca antes foram tentadas em Goiás, colocou um ponto final no mandonismo dos grandes empresários sobre o governo, viabilizou privatizações, extinguiu privilégios e, como demonstra outra jornalista Cileide Alves, em seu artigo na mesma edição de O Popular, alcançou conquistas importantíssimas para a população na área de segurança. Como assim, “deslanchar”?
Por fim, quem lê o estapafúrdio cartapácio de Fabiana Pulcineli e os conselhos dos seus acadêmicos só pode chegar a uma conclusão: Caiado, se quiser ser um bom governador, precisa deixar imediatamente… de ser Caiado. Deveria renunciars às suas convicções, “ouvir” os maiores capitães da indústria em Goiás e o funcionalismo – e é de se duvidar que queiram abrir mão de um mínimo que seja das regalias de que desfrutavam -, engolir calado tudo de errado e absurdo que foi imposto a ele quando assumiu o governo de Goiás e, de cabeça baixa, seguir em frente carregando silenciosamente nas costas o pesado fardo que recebeu. Não fazer o que está fazendo, ou seja, fixar a marca anticorrupção que é a sua companhia por uma vida inteira e, na frente administrativa, procurar o fim do modelo de desequilíbrio entre receita e despesa dos últimos 20 anos, enfrentando os interesses corporativistas e de minorias não comprometidas com o conjunto da sociedade. Isso não é possível. Não ouça, governador, os palpites destrambelhados de Fabianha Pulcineli e dos supostos “cientistas políticos” que ela arrumou para sustentar o equívoco em que ela acredita, cuja única consequência seria a destruição do Estado.