Ao contrário do que os próprios colegas de partido estão dizendo, Jânio Darrot saiu fortalecido do confronto que teve com Marconi e passou a ser saída para que o PSDB tenha um futuro em Goiás
Houve, sim, um embate entre o prefeito de Trindade Jânio Darrot e o ex-governador Marconi Perillo, conforme apontou com propriedade o jornalista Divino Olávio em sua coluna no Diário Central. Em resumo, depois de nove meses no cargo, o presidente estadual do PSDB percebeu que estava fazendo papel de fantoche, que não passava de uma rainha da Inglaterra tomando decisões que Marconi cancelava pelas suas costas e que, politicamente, já tinha chegado a um patamar em que o seu nome – limpo como o do governador Ronaldo Caiado – já tinha se tornado maior que o próprio partido. Com base nesse feedback e também interesseiramente de olho na possibilidade de ser o candidato a governador tucano em 2022, Jânio Darrot fez a sua jogada.
Ameaçou renunciar e colocou uma espada no peito de Marconi. O ex-governador vinha fazendo o que sempre fez: agia por trás para resolver assuntos partidários conforme a sua conveniência, sem sequer se dar ao trabalho de avisar previamente quem quer que fosse. Quem conhece o tucano-mor de Goiás sabe que ele é assim mesmo e que nunca se comportou de outro modo nos 20 anos de poder absoluto que teve em Goiás. Aliados, para Marconi, não são pessoas com suas idiossincrasias, mas peças do tabuleiro político a serem movimentadas ao seu bel-prazer.
Mas isso, claro, nos bons tempos de governo, quando a fartura de benesses e a capacidade de influir sobre verbas enormes conferiam uma autoridade ilimitatada. A rebelião de Jânio Darrot acabou sendo a primeira contestação real que Marconi enfrentou, em toda a sua vida, quanto a sua liderança política – e logo vinda de um amigo indiscutivelmente leal. Bem, leal, mas não submisso e disposto a pagar o preço da própria desmoralização para defender e fortalecer um líder ferido pelas denúncias de corrupção e pela surra que tomou nas urnas. Nesse sentido, Jânio Darrot foi frio: nada, na sua carreira pregressa de submissão a Marconi, indicou algum dia o gesto de repetinamente colocar o ex-governador contra a parede e pressioná-lo com sucesso a abandonar a proatividade com que interferia na condução do seu grupo político.
Feitas as contas, Jânio Darrot conseguiu um salvo-conduto para presidir o PSDB que tem desdobramentos automáticos na candidatura a governador da legenda em 2022. Não que isso seja difícil: não há nomes disponíveis, muito menos o de Marconi ou do seu ex-vice Zé Eliton, reduzidos a pó de traque pelas ações e investigações policiais que os levaram, no caso de um, à prisão por 24 horas, e, no de outro, a um pedido de detenção que não foi aceito pelo juiz do caso. Jânio Darrot venceu a parada. Logo Jânio, uma figura suave, que não articula de modo agressivo e não é de antagonismos, tanto que, como presidente do PSDB, nunca se sentiu bem no mister de crítico do governador Ronaldo Caiado, obrigado a assinar notas em defesa de Marconi que chegavam prontas e sem direito à mudança de uma vírgula.
O resultado desse imbróglio é um só: Jânio Darrot saiu imune a intromissões de Marconi ou de qualquer outro ao atuar como presidente do PSDB, de agora em diante. Ele passou a existir a partir do momento em que deixou de dizer sim e entoou um não. Como é um nome isento de denúncias e das tão comuns e disseminadas acusações de falcatruas que sujam grande parte dos tucanos em Goiás, despontou e se solidificou como opção para o futuro do partido em Goiás, talvez a única. Se conseguir se estadualizar, pode ter condições de enfrentar a reeleição de Caiado em 2022, pelo menos com alguma dignidade mesmo em razão do currículo pôdre do partido que representará. Ao contrário do que dizem tucanos como Jardel Sebba, que com alguma cor-de-cotovelo condenou o fica-não-fica na presidência do partido, ele cresceu. Quem diria: Jânio Darrot é, agora, é a saída para a sobrevivência do PSDB goiano.