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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

30 jan

Candidatura de Vanderlan a prefeito de Goiânia é um erro porque ele não precisa mais de exposição a qualquer preço e estaria se reapresentando ao eleitorado sem ter justificado o mandato de senador

O senador Vanderlan Cardoso tem um defeito de origem que é gravíssimo em política: ele é solitário, isto é, não tem e não busca aliados, bancando a sua carreira apenas com os seus próprios recursos e não como expressão de uma vontade social ou representação de um segmento expressivo da sociedade. Vá lá: sozinho, ele já foi longe demais, chegando a um mandato de senador que não foi produto de posições que porventura tenha defendido ou interesses coletivos que tenha assumido, mas resultado de uma conjuntura em que os candidatos concorrentes – principalmente Marconi Perillo e Lúcia Vânia – encontravam-se debilitados por ocorrências policiais e por uma fadiga na exposição ao público.

Por conta própria, ou seja, em razão dos seus méritos, sejam quais forem, Vanderlan não seria senador. Em uma eleição com candidatos convencionalmente estruturados, ele provavelmente não teria ganho. É preciso uma dose cavalar de humildade para admitir essa verdade e é bem possível que o senador, alçado ao paraíso em vida da mais alta câmara legislativa do país, onde a história transcorre à frente de cada um dos seus integrantes, não a tem e dificilmente a terá. Daí, a ideia que meteu em sua cabeça de disputar a eleição para prefeito de Goiânia antes de mostrar serviço no Senado, imaginando-se talvez senhor da vontade do eleitorado e uma liderança estadual que ainda não é.

É um risco grande que ele vai correr, a não ser que esteja buscando apenas estrelar o noticiário sobre a dança das candidaturas – algo de que ele, para se manter em evidência, não tem a menor necessidade. O que Vanderlan precisa, na verdade, é justificar o mandato que as urnas outorgaram a ele, até agora cumprido em brancas nuvens. OK, há uma emenda orçamentária para um hospital, outra acolá para uma prefeitura e mais algumas desse tipo, o mesmo modelo que acabou custando a reeleição a Lúcia Vânia  – aquela acreditou na hipótese de passar pelo Senado sem se posicionar sobre os grandes temas do Estado e do país, apenas distribuindo benesses para as suas bases, como uma espécie de despachante de luxo dos municípios em Brasília. Deu no que deu, ou seja, em uma derrota eleitoral que ela credita à companhia tóxica de Marconi Perillo na chapa do PSDB, porém construída unicamente por ela e por mais ninguém.

Mais grave, para Vanderlan, é que ele não tem projeto para Goiânia. Enfrentou Iris Rezende em 2016 sem tê-lo e acha que bateu na trave, perdendo por pouco. Mas não foi assim. Na capital, acabaram-se os tempos de vitórias esmagadoras, em 1º turno. A expectativa é agora de eleições apertadas, porque o maior colégio eleitoral do Estado é bem informado e dotado de espírito crítico, o que explicará, depois de acontecida, a recondução de Iris – ele, fisicamente, encarnação de um programa de governo que neste ano, fundamentando por uma administração excepcional em todos os sentidos, será muito melhor que o do pleito passado e tecnicamente imbatível, quanto mais por quem, tendo recebido a chance de um valiosíssimo mandato senatorial, ainda não deixou claro que os votos recebidos valeram a pena para quem os deu.

De resto, é o que se disse nas linhas iniciais deste post: um empresário que está na política, não um político em definitivo, Vanderlan não tem sequer o mínimo, ou seja, um partido para respaldar o seu nome em Goiânia, já que sempre preferiu o desempenho individual à formação de de alianças ou grupos. Ele sempre foi alguém que aproveitou oportunidades, como a de 2018, beneficiando-se de momentos e conjunturas que não estarão disponíveis na eleição deste ano em Goiânia, quando estruturas partidárias e sociais terão peso elevado, inclusive quanto ao principal elemento da campanha, que é o horário de propaganda pelo rádio e televisão. Vanderlan vai gastar a maior parte das suas energias e do seu tempo respondendo às críticas dos adversários de que não honrou sua passagem pelo Senado e só tem as mãos vazias para apresentar. Em vez de acrescentar estofo e dar peso à sua presença no cenário político, isso pode diminuir o seu tamanho e comprometer o seu futuro.