Informações, análises e comentários do jornalista
José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

04 maio

Rafa Kalimann dá lição à egoísta e insensível elite política de Goiás ao doar o prêmio de R$ 150 mil que recebeu do Big Brother para o combate ao coronavírus

Enquanto a elite econômica de Goiás continua omissa e se escondendo atrás dos seus privilégios, como os escandalosos incentivos fiscais no valor entre R$ 8 e 12 bilhões por ano que as 534 maiores empresas estaduais recebem, uma menina simples e até despretensiosa, a blogueira e influencer digital Rafa Kalimann, cresceu como exemplo ao resolver doar o prêmio em dinheiro que recebeu do Big Brother Brasil ao se classificar em 2º lugar na maratona do reality show.

São R$ 150 mil reais, quase nada diante das fortunas que os nossos supercapitalistas faturam e acumulam a cada ano, somente com o ICMS que deixam de pagar sob a desculpa de que estão produzindo riquezas e gerando empregos, farsa que a CPI dos Incentivos Fiscais da Assembleia Legislativa já expôs com números e dados incontestáveis. Quase nada diante do tamanho da emergência social e econômica que desabou sobre todos, mas muito, muito mesmo quando registramos as costas viradas para a população desfavorecida que os donos do dinheiro assumiram em Goiás, recusando-se a um mínimo de solidariedade quando a pandemia desceu no Estado e se desdobrou em restrições para a economia que estão e vão continuar prejudicando a todos, mas especialmente os segmentos desprotegidos das goianas e dos goianos.

A FIEG, órgão maior do baronato industrial do Estado, teve a desfaçatez de anunciar com espalhafato a doação de 100 termômetros para os hospitais públicos. 100 termômetros! E ainda propagandeou uma campanha de arrecadação de alimentos, que não chegou a dois ou três mil quilos de produtos, para repasse a entidades filantrópicas, mercadoria que não completa a carga de um caminhãozinho como os que a CAOA monta em Anápolis – aliás em uma fábrica cujo terreno e edificação foi inteiramente doada pelos contribuintes goianos (detalhe que é significativo porque a empresa também não abriu os cofres para a generosidade com o próximo).

Há honrosas exceções, aqui e ali. Os três maiores grupos de comunicação estaduais – Jaime Câmara, Record e Serradouda – enviaram toneladas de cestas básicas para a OVG, o que merece elogios, mas tem peso insuficiente para desmentir a conclusão de que os mais ricos, em Goiás, são insensíveis, gananciosos e egoístas. Na live-aberração dos cantores sertanejos Eduardo Costa e Leonardo, assistida em alguns momentos por 4 milhões de pessoas, chamou a atenção o valor ridículo das doações, em dinheiro ou alimentos, arrecadadas: pouco mais de R$ 300 mil, apesar dos apelos que os dois destrambelhados faziam a cada minuto, tentando estimular a boa vontade do empresariado, inclusive seus patrocinadores, que ainda pagaram o mico de ver suas marcas associadas a um desatino. Não houve resposta. Ninguém de Goiás deu um centavo sequer. O pouco que entrou veio de outros Estados.

Coube a Rafa Kalimann o gesto que adquiriu grandeza e, ao mesmo tempo, desnudou o entorpecimento social dos grandes detentores do capital em Goiás. Ela não é milionária nem remediadamente abastada. Só que provou ser uma pessoa comprometida com o seu tempo e a busca de soluções para centenas de milhares de goianas e goianos que não usufruem da boa sorte da fortuna, muito mais que os capitães de indústria que tistemente habitam o nosso Estado. A ela,  a pequena Rafa Kalimann, leitoras e leitores, vamos parabenizar, elogiar, tirar o chapéu e reconhecer: eis aí um ser humano que nos faz ter orgulho da humanidade.