Informações, análises e comentários do jornalista
José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

14 maio

Nau dos insensatos, pilotada pela ganância do empresariado e demagogia eleitoreira dos prefeitos, com o apoio de um grupo ingênuo de pesquisadores da UFG, arrasta Goiás para a cova

Está se produzindo, por conta de lideranças empresariais irresponsáveis e do espírito de levar vantagem eleitoral a qualquer preço de prefeitos de cidades importantes, contando com a ajuda de um grupo ingênuo de pesquisadores da UFG, as condições perfeitas para que Goiás e sua população venham a ser arrastados para o buraco de uma cova – ou milhares delas – nos cemitérios que são o destino de parte das vítimas do coronavírus.

Chefes de instituições classistas de peso como a Federação das Indústrias do Estado de Goiás – FIEG, Sandro Mabel, ou a Associação Comercial e Indústrial do Estado de Goiás – ACIEG, Rubens Fileti, associaram-se a prefeitos de municípios populosos como Roberto Naves, de Anápolis, e Gustavo Mendanha, de Aparecida, para pressionar o governador Ronaldo Caiado e forçar um relaxamento ainda maior da quarentena sanitária imposta, mas pouco cumprida pelas goianas e pelos goianos. Para reforçar a tripulação dessa nau dos insensatos, ainda apareceram professores da UFG que passaram a apregoar a falta de necessidade de um novo decreto para reforçar o isolamento social, bastando apenas, segundo alegam infantilmente, exigir que se cumpra o anterior, atualmente em vigor, que não colou e não está sendo observado em parte alguma do Estado.

O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta avisou nesta quarta, 13 de maio, que o surto da Covid-17 no Brasil está apenas no começo e que dias piores, bem piores, vêm vindo aí. Acrescentou que o tempo e a história mostrarão quem tem razão quanto ao que deve ser feito. Em Goiás, são nítidos os sinais de que a pandemia está se acelerando, produzindo um número maior de pacientes e mortos a cada dia. Dentro de uma visão bolsonarista de preservação da economia em detrimento das vidas, Mabel, Fileti, Naves e Mendanha sustentam com unhas e dentes a extinção das medidas de restrição à circulação de pessoas – que, por critérios técnicos e científicos, precisam é ser endurecidas urgentemente.

O que eles estão defendendo, sem base alguma, é a prática de um crime que seria expresso nas filas de caixões que inevitavelmente acabariam se formando à saída dos hospitais com a explosão nos números da nova doença no Estado. Nos jornais desta quinta, enfileiram-se declarações de todos eles que vão muito além da irresponsabilidade e beiram a incidência em uma gama de artigos do Código Penal. A situação em Goiás, o pior Estado em matéria de cumprimento do distanciamento entre as cidadãs e os cidadãos, é de adoção imediata de um lockdown e não de seguir os palpites sem nexo de grandes empresários que querem continuar ganhando dinheiro às custas do sofrimento do povo e de prefeitos oportunisticamente de olho na reeleição. Essa gente precisa calar a boca ou então, se a abrir, usá-la para propugnar pelo bem comum e pelo interesse coletivo, acatando os princípios humanitários que definem a civilização moderna e que pressupõem que todos, sem exceção, têm direito a proteção da sua saúde e que isso não está abaixo das coisas e do dinheiro.