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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

09 dez

Condições físicas de Maguito são impeditivas para diplomação, posse e talvez até o exercício do mandato. Assunto não é tabu, por envolver o interesse coletivo, e precisa ser tratado objetivamente

Com 50 dias de internação hospitalar, atualmente intubado e submetido a hemodiálise contínua no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, o mais caro do país, com despesas médicas que a esta altura já devem ter superado os R$ 2 milhões de reais, o prefeito eleito de Goiânia Maguito Vilela segue em condições físicas que ninguém, no momento, sabe precisar com exatidão – talvez nem mesmo os qualificados profissionais de saúde que o assistem. A linguagem fria e técnica, além de resumida, dos boletins oficiais do Albert Einstein não possibilitam uma visão desanuviada sobre o que está se passando com o paciente, levando a uma conclusão inevitável: ele continua em estado grave ou gravíssimo, perdeu peso, não tem consciência de nada e não estará em condições de ser diplomado, em solenidade marcada para os próximos dias, e muito menos de tomar posse no dia 1º de janeiro. Em uma linha: tão cedo não falará, não se alimentará normalmente e não ficará de pé. Seus pulmões, que chegaram a quase 100% de comprometimento, jamais voltarão a funcionar como antes.

É a dura realidade, infelizmente. Em grupos fechados de médicos, isso é dito sem censura. Que, no entanto, está sendo ignorada, sob a desculpa de que abordar da doença de Maguito e das suas perspectivas de vida, neste instante, seria preconceituoso ou desumano. O assunto foi transformado em tabu, enquanto políticos e pessoas que não foram eleitas para a prefeitura preparam-se para tomar de assalto o Paço Municipal. Isso tem de ser falado, debatido, tratado às claras, sob o risco de mergulhar Goiânia em uma aventura administrativa que pode ter efeitos deletérios para a cidade e seus habitantes. Ninguém quer reconhecer que, no último pleito, a capital escolheu um prefeito sem condições para cumprir o mandato que recebeu da benevolência das goianienses e dos goianienses, não em razão de um projeto político ou de propostas, mas da compaixão que despertou e foi habilmente manipulada pela campanha do MDB. Só que foi exatamente o que ocorreu.

Vítimas idosas do novo coronavírus pagam um preço alto. Os danos ao organismo são terríveis e duradouros. O painel acima, extraído da revista acadêmica Nature, já com 150 anos de circulação na Inglaterra e de credibilidade indiscutível, resume algumas sequelas que perseguem os sobreviventes dos grupos de risco, na maioria dos casos para sempre. Notem bem, leitoras e leitores, são mencionadas apenas poucas, não todas, porque a Covid-19 abriu um novo foco para a medicina mundial, a partir deste ano com larga margem dos seus esforços concentrados no seu estudo, em um vasto campo de investigação. Não é uma “gripezinha”. E sem falar na hipótese de reinfecção ou de exposição a cepas mutantes, como a descoberta agora na Dinamarca. O que seria “desumano”, quanto a Maguito, é esperar que, diante dos 72 anos que completará em janeiro, venha a exercer atividades laborais intensas, sujeitando-se a tudo isso, em um cargo que traz obrigações diárias pesadas, em vez de recolher-se a uma rotina de cuidados intensivos consigo próprio. Sim, pode sobrevir um milagre e ele se restabelecer plenamente, derrubando os prognósticos ora colocados. Porém, “milagre” já terá sido sobreviver ao ataque do vírus, dada a sua fragilidade genética específica para a patologia.

É urgente conversar sobre todos esses pontos. Insistir na cortina de silêncio sobre as verdadeiras circunstâncias de Maguito é prejudicial tanto para ele individualmente quanto para Goiânia coletivamente. O futuro, ou seja, 2021 está chegando rapidamente. Se o novo prefeito é o vice Rogério Cruz, tutelado pelo menos inicialmente por Daniel Vilela, em um organograma de poder que não foi previamente revelado às eleitoras e aos eleitores, ao contrário escondido pelas falsas notícias da iminente melhora e alta hospitalar do candidato, que nunca aconteceram e até hoje não têm previsão de acontecer, é preciso que venham a público para dizer o que pensam e qual é o programa que propõem para a gestão municipal. Está faltando inteligência, enquanto se brinca de transição no Park Lozandes. O que vem aí, para Maguito e para a cidade, não parece ser bom.