Investigações policiais no Hospital Municipal de Aparecida, com secretário da Fazenda e mulher se recusando a depor, remetem para a existência de uma caixa preta na prefeitura, que precisa ser aberta
A polícia civil está aprofundando as investigações sobre fraudes praticadas no Hospital Municipal de Aparecida, onde a prefeitura vinha pagando exames laboratoriais a preços superfaturados, além de outras irregularidades. A apuração recebeu o nome de Operação Falso Positivo e flagrou, no escritório de um laboratório particular instalado dentro do hospital, a mulher do secretário da Fazenda do município André Rosa. Trata-se de Edlaine Rosa, encontrada pelos policiais despachando papéis e dando ordens a servidores. Intimados os dois – André e Edlaine – para depor, ambos compareceram, mas não responderam as perguntas invocando o direito de permanecer em silêncio.
É um caso suspeito e também sintomático do que se passa na prefeitura local. Que lá dentro existe uma caixa preta à espera de ser aberta, existe. Contratos e despesas com publicidade, por exemplo, clamam por esclarecimentos, desvendando-se a estrutura de agências de propaganda subordinadas ao prefeito Gustavo Mendanha – que, a propósito, está criando uma Secretaria de Comunicação para trabalhar as verbas de divulgação, ideia que ele não mencionou na campanha. Aparecida já tem 21 pastas, mais que Goiânia, por exemplo, administrada por Iris Rezende com apenas 14 secretarias. Gustavo Mendanha, não satisfeito, está implantando mais três. Além da Comunicação, virão também uma para a Cultura e outra para a Segurança (que é assunto de competência estadual, diga-se de passagem).
Nos dois mandatos de Maguito Vilela, Aparecida foi para as manchetes com as seguidas denúncias de improbidade na gestão, por conta do Ministério Público. Quase 50 secretários e auxiliares tiveram e continuam com as contas rejeitadas pelo Tribunal de Contas dos Municípios. Uma lambança administrativa, enfim. Que pode ter prosseguido. O atual secretário de Saúde Alessandro Magalhães, um dos alvos da Operação Falso Positivo, foi nomeado por Gustavo Mendanha para o cargo mesmo tendo sido condenado por fraudes no Hospital Araújo Jorge, em Goiânia, investigadas pela polícia civil através da Operação Biópsia. Horrorizem-se, leitoras e leitores: Alessandro Magalhães foi sentenciado a 4 anos e seis meses de prisão, em regime semiaberto. Recorreu e encontra-se confortavelmente comandando as verbas públicas que Aparecida destina para a saúde.
A reeleição de Gustavo Mendanha, com maioria esmagadora de votos, não é salvo-conduto para nada. Nem julgamento que o livra de responsabilidade por quaisquer embrulhadas administrativas, pior ainda do tipo da que ocorre no momento no Hospital Municipal. Não justifica o seu endeusamento e transformação precoce em candidato a governador em 2022. Há que se lançar olhos para o que está por trás, em especial a manipulação de notícias sobre a prefeitura e o imenso passivo de carências urbanas e sociais que segue em aberto pelos bairros afora. Um exemplo dessa distorção foi a festiva comemoração do surgimento do nome de Aparecida em um painel luminoso da icônica Times Square, em Nova Iorque, como prova da pujança e do acerto da atual gestão. Não é real. A verdade é que uma grande empresa de maquininhas de cartão, a Stone, comprou o espaço para homenagear empreendedores de 219 cidades brasileiras. De Goiás, foram citadas mais de 10, entre elas Aparecida, mas até o jornal O Popular caiu na esparrela, informando à sua plateia que “empresa homenageia Aparecida na Times Square” na tela da bolsa Nasdaq, e escondendo os demais municípios goianos citados (veja fotos de alguns acima). Há um visível esforço para forçar uma imagem de unanimidade para Gustavo Mendanha. E, como toda unanimidade, essa é perigosíssima por envolver o futuro dos quase 600 mil aparecidenses.
Atualização ao meio dia de 17/12: O Popular corrigiu o erro e publicou matéria informando que Aparecida não foi a única citada no anúncio publicado pela Stone no painel luminoso da Nasdaq na Times Square. Exatamente 219 outros municípios foram mencionados, entre eles 12 de Goiás.