Patrimônio de Maguito, que alegava viver de aposentadoria do INSS e da advocacia, de repente passa a incluir 620 vacas holandesas, que valem milhões e serão leiloadas para repartir o dinheiro
Vai ser o maior leilão de bovinos da história de Jataí, pelos valores envolvidos. No dia 24 de abril, a partir das 13 horas, lá mesmo, mas em transmissão online e recebimento de lances de todo o país, serão ofertadas 620 cabeças de gado holandês ou exatamente 320 vacas paridas e amojando, 160 novilhas prenhas e 140 bezerras até 13 meses, todas devidamente registradas e portando ainda mais valiosas. Trata-se da liquidação do espólio do prefeito eleito de Goiânia Maguito Vilela, que está sendo promovida pelo filho Daniel Vilela com o objetivo, evidente, de dividir o dinheiro arrecadado entre os herdeiros e tentar facilitar um inventário que, até agora, tem pinta de ser difícil e complicado quanto ao ajuste dos interesses de todos os beneficiários – a ex-esposa Sandra Carvalho, a última, Flávia Teles, com quem não chegou a se casar, e os quatro filhos, dois do casamento com Sandra (entre eles, Daniel) e dois da união estável com Carmem Estevão.
A divulgação do leilão, a cargo de uma das maiores firmas especializadas do país, a Embral, informa que se trata apenas de uma 1ª etapa, o que sugere que há mais gado e inclusive mais equipamento, entre máquinas, ordenhadeiras e demais instrumentos específicos para a atividade leiteira. Até aí, tudo bem. O problema é que ninguém sabia que Maguito era um dos maiores produtores de leite do Estado, com um plantel que vale uma pequena fortuna. Ele nunca falou sobre isso. Nem mesmo comunicou ao Tribunal Regional Eleitoral ou à Receita Federal, nas declarações obrigatórias em que mencionava suas fazendas, mas jamais essa quantidade espetacular de vacas, novilhas, bezerras de alto nível genético e muito mais. Oficialmente, ele não tinha uma vaca curraleira.
Em 2018, quando chegou a registrar sua candidatura a suplente de senador de Vanderlan Cardoso, porém retirou em favor do ex-deputado Pedro Chaves, Maguito não informou sobre esse rebanho milionário. Não declarou uma única cabeça. Em 2020, como postulante a prefeito de Goiânia, repetiu omissão. Aliás, comunicou à Justiça Eleitoral que o seu patrimônio, que em 2028 era superior a R$ 6 milhões de reais, havia se reduzido para pouco mais de R$ 2 milhões, sem fazer nenhum esclarecimento a respeito. Só as 620 cabeças desse leilão podem representar o triplo disso.
Maguito nunca falou sobre esse fantástico capital acumulado, de onde veio ou como foi construído. O lote de holandesas que será vendido no dia 24 representa entre R$ 4 e 6 milhões de reais, senão mais. Ele costumava andar com uma declaração do INSS no bolso e gostava mostrar que recebia apenas R$ 5 mil reais mensais para levar a vida, aos quais acrescentava alguma renda que viria do escritório de advocacia que supostamente abriu após deixar a prefeitura de Aparecida. Antes, ele nunca advogou. Nos vários ramos da Justiça em Goiás, cível, criminal, eleitoral, trabalhista ou seja o quê, não há até hoje registros de ações patrocinadas por ele.
Tudo isso é estranho. Muito estranho. Um grande produtor de leite de Jataí sobre o qual ninguém sabia nada? E que nunca contou sobre a sua máquina de fazer dinheiro, calcada em ativos rurais de elevada cotação monetária? Nada disso declarado, ao contrário das obrigações de transparência cabíveis a todo e qualquer político e ainda mais legalmente exigida pelas leis eleitorais para o registro de candidaturas, como foi o caso da suplência em 2018 e da prefeitura de Goiânia em 2020? Isso precisa ser explicado. Não é porque morreu que Maguito tem que ser santificado. Ele tinha uma carreira pública, à qual é inerente o dever de colocar todos os atos da sua esfera individual em pratos limpos, ainda mais em se tratando de negócios. Maguito era rico, estamos sabendo agora, mas escondia de todo mundo.