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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

16 jul

Acordo entre DEM e MDB vai criar eixo de poder com possibilidade de durar longos e longos anos, com Caiado e Daniel Vilela como principais protagonistas da política em Goiás

Figuras as mais díspares da política estadual têm se mobilizando, em público ou nos bastidores, contra a aliança entre o DEM e o MDB, ora em processo de montagem acelerada, por vislumbrar, desde já, que dessa aproximação resultará um eixo de poder com força suficiente para durar entre 20 e 30 anos em Goiás – período no qual o protagonismo será do hoje governador Ronaldo Caiado e do atual presidente estadual emedebista Daniel Vilela.

Não é exagero. E é por isso que cresce a contrariedade do prefeito de Aparecida Gustavo Mendanha, do senador Vanderlan Cardoso e também do presidente estadual do PSD Vilmar Rocha. Eles, e mais alguns, não veem com bons olhos a dança ensaiada entre Caiado e o filho e herdeiro político de Maguito Vilela, Daniel, sob as bênçãos de Iris Rezende, com certeza o estrategista maior por trás de toda essa movimentação. Se o acordo DEM-MDB se concretizar, que espaço restará para projetos alternativos, pelos próximos longos e longos anos? Possivelmente, nenhum.

Nem Mendanha e Vanderlan chegariam ao governo do Estado nem Vilmar a uma sonhada senatória nem outros concorrentes eventuais teriam chances. Caiado e Daniel, juntos em uma mesma chapa em 2022, dificilmente perderiam, relegando a oposição a nomes sem representatividade e sem oxigênio para algum fôlego na batalha eleitoral. Na sequência, viria 2026, com Daniel assumindo o governo após a renúncia de Caiado para buscar uma vaga no Senado, candidatando-se à reeleição como beneficiário de toda a força do grupo em formação e até lá consolidado. Em 2030, como Daniel não poderia partir para uma nova candidatura, ele optaria pelo Senado, voltando Caiado a postular o governo. Ganhando, iria para 2034, podendo disputar a reeleição, ou apoiando novamente Daniel. Um outro poderia se eleger, com probabilidades altas, desde que as suas gestões transcorram sem tropeções. Em 2038, novamente. E em 2042 também, com possibilidades elevadas de chegar a 2046.

Ora, alguém dirá, está faltando combinar com os adversários? Claro. Mas… quais adversários? Uma estrutura de poder desse nível de consistência seria avassaladora, cooptando a maioria esmagadora das lideranças e, por outro lado, atropelando sem dó nem piedade quem se disponha a se opor. A hipótese de sucesso só ruiria vitimada por fatores intrínsecos, que não parecem viáveis, diante da postura intransigente de Caiado contra a corrupção e os malfeitos administrativos e da “genética” de Daniel, como disse o governador no histórico encontro de Aruanã, “um rapaz dotado potencial, capacidade e DNA de honestidade, competência e coragem”, em sintonia com tudo o que foi o pai Maguito.

Um acréscimo: o acordo MDB-DEM, pelo seu potencial de durabilidade, também seria o legado de Iris Rezende, no apogeu da sua carreira de mais de 60 anos, o mais longevo político em atividade em todo o Brasil. Ele, Iris, é o mentor número um dessa articulação, ele a concebeu, na qual investe todo o peso da sua autoridade moral e projeta o que entende ser uma garantia de futuro para Goiás e uma mensagem para as próximas gerações. Um pacto político como nunca se viu antes, em Estado algum, que figuras menores, como o “menino de Aparecida”, jamais entenderão, no seu vazio intelectual.