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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

28 ago

Aliança para o futuro(5): antecipação da aliança DEM-MDB causou espanto entre jornalistas, não no meio político, onde se sabe que Caiado agiu para consolidar a sua reeleição e tirar o oxigênio da oposição

É uma lenda urbana a afirmação de alguns jornalistas, em especial os da equipe de cobertura política de O Popular, de que a visita do governador Ronaldo Caiado ao diretório estadual do MDB, para convidar o partido a integrar a sua chapa em 2022, causou espanto entre a base do Palácio das Esmeraldas e da mesma forma em meio a emedebistas, como o prefeito de Aparecida Gustavo Mendanha, por exemplo, e que ninguém entendeu a motivação do governador.

Uma repórter de O Popular beirou a histeria ao pressionar o presidente regional do MDB Daniel Vilela, com perguntas cavilosas, sobre a obrigação de promover prévias para aprovar ou rejeitar o acordo com o DEM. Diante da resposta tranquila de Daniel, informando que uma consulta amplificada não faria sentido por sequer estar prevista no estatuto partidário, ela, a jornalista, usou o argumento de que o PSDB nacional está fazendo as suas para escolher o candidato a presidente. “Não sei como é o estatuto do PSDB. Eu sigo o que o meu estatuto determina”, ripostou com tranquilidade o dirigente maior do MDB em Goiás.

Outra jornalista escreveu um cartapácio em cujo título avisa abordar a questão das “vítimas da aliança DEM-MDB”, induzindo as leitoras e os leitores a acreditar que elas estariam entre a oposição. Mas, não. Com a leitura do artigo, vê-se, basicamente, que essas “vítimas” seriam o “menino de Aparecida”, como Mendanha ridiculamente se autodenomina, e o “trator do interior”, como também se chama a si próprio o prefeito de Catalão Adib Elias. “Vítimas”? Como assim? Por terem sido preteridos nos seus interesses pessoais, ambos interessados em vingança, o primeiro contra Caiado e o segundo contra Daniel? Não tem sentido.

O movimento de Caiado e a reação rápida de Daniel Vilela surpreenderam é certo tipo de profissional de imprensa, que se invoca como intérprete oracular dos fatos políticos e não gosta de ser atropelado por acontecimentos fora do seu radar. Gente, também, que nutre simpatia pela oposição, qualquer que seja, apenas por considerar que governos, todos eles, não merecem ser elogiados ou aprovados. Em 5 entrevistas que fez com Gustavo Mendanha, de página inteira em diante, em menos de 45 dias, O Popular não questionou o prefeito sobre o impulso que a família Vilela deu à sua carreira política e sobre o estigma de traidor que hoje está sendo lançado contra ele ao se posicionar contra o filho e herdeiro de Maguito. Nem perguntou sobre os ressentimentos que ele nutre em relação ao governador, por ter apoiado uma adversária em Aparecida em 202o e pelas operações da Polícia Civil que investigam corrupção na prefeitura e no hospital municipal da cidade.

Na verdade, a jogada de Caiado foi, sem exagero do adjetivo, primorosa. Tira o fôlego ao mesmo tempo da oposição, hoje beijando a lona em Goiás, e daquela imprensa que se acredita investida n dever de manter vivas as enfraquecidas forças que se propõem a antagonizar a reeleição do governador. Se espanto há, é para aí que deveria se dirigir. Políticos sabem muito bem que o motor da visita surpresa ao diretório do MDB foi o propósito de fazer uma boa e inteligente articulação entre partidos para montar uma chapa convincente e sustentada para disputar as eleições, ampliada em seus fundamentos. Mais de ano antes das eleições? questionou a jornalista que entrevistou Daniel Vilela. Ora, sim, por que não? Não há regras determinando que isso se faça às vésperas das convenções. E definição de vice é sempre foco de alguma crise, quando se trata de uma base governista, ao contrário dos grupamentos oposicionistas, não importando se pouco mais de um ano antes ou proximamente ao pleito. O prazo estendido tem a vantagem extra de adicionar tempo para a resolução de eventuais conflitos.

Podem anotar, amigas e amigos: em se tratando de um governador com a autoridade moral que Caiado tem de sobra, a aliança entre o DEM e o MDB é irreversível e dificilmente provocará rachas no entorno do Palácio das Esmeraldas, pelas garantias que acrescenta à conquista de mais um mandato para o seu atual inquilino. No fundo, o que interessa é a manutenção do poder e por meios limpos e éticos, no caso honrando uma biografia imaculada. É por isso que Adib Elias recusou-se a dar entrevista a O Popular, para não servir de massa de manobra em um momento em que está refletindo (viajou par o interior de São Paulo para pagar uma promessa) sobre as consequências de um gesto imprudente. E ninguém mais se manifestou. O circo, no final das contas, só continua armado na vizinha Aparecida, através da aposta na qual O Popular embarcou e que não vai durar muito tempo, como ocorre com blefes em geral.