Apoio do MDB a Caiado e Daniel Vilela na vice foram jogadas políticas de profundidade, mas falta o filho e herdeiro de Maguito sair do imobilismo e mostrar que tem uma contribuição a dar
Não há segredo: a maior e mais profunda justificativa para a aliança do governador Ronaldo Caiado com o MDB e a consequente indicação de Daniel Vilela como vice é o bem-sucedido objetivo de tirar o fôlego da oposição, praticamente esvaziando e impossibilitando, como demonstrado, qualquer mobilização mais agressiva de forças antagônicas capazes de barrar a reeleição de Caiado.
Sem o MDB, a oposição ficou sem oxigênio. Isso está claro. Não há sequer candidatos claramente definidos, a menos de nove meses da data das urnas. A manobra de Caiado pode ser considerada como uma das mais ousadas, ambiciosas e exitosas da história política de Goiás e, de fato, o é.
Mas, como perfeição é uma meta inatingível, há brechas que precisam ser calafetadas. Não da parte de Caiado, que fez o seu dever de casa até em excesso. Mas por um dos grandes beneficiários da operação, ou seja: Daniel Vilela.
A designação de Daniel para a vice-governadoria trouxe junto um passivo que tem aumentado ao invés de diminuir: 1) a permanência da rejeição dos prefeitos que ele expulsou do MDB exatamente porque apoiaram Caiado em 2018; 2) as reclamações de prefeitos como Roberto Naves, de Anápolis, que tem o caminho atapetado de cascas de banana jogadas por emedebistas locais; 3) a insatisfação de candidatos proporcionais da base governista, como o presidente da Assembleia Lissauer Vieira, que viu despontar na sua principal região de influência, o Sudoeste, um candidato emedebista (Renato Câmara) para dividir a sua votação a deputado federal; 4) a falta de ação em Aparecida, terreno teoricamente natural para a movimentação de Daniel Vilela, onde o prefeito Gustavo Mendanha segue sem enfrentar qualquer oposição ou articulação política alternativa ao seu comando; e 5) a persistência do estremecimento com o prefeito Rogério Cruz, que representa o Republicanos, talvez o principal partido a conquistar para a coligação que vai sustentar a reeleição de Caiado.
Tem mais, mas esses são os pontos cruciais que não deixam de caracterizar uma certa omissão ou, no mínimo, a falta de resultados práticos que Daniel Vilela deveria ter produzido para a campanha de Caiado. No atacado, surpreende a constatação de que ele não age e deixa tudo para Caiado, como, aliás, tem dito nos bastidores. Chama atenção o receio que ele tem quanto a fazer críticas a Mendanha, que o traiu sem nenhum pudor. Até hoje, em meses, limitou-se a dizer que foi o seu pai, Maguito Vilela, que fez as obras de importância para Aparecida e que o atual prefeito se limita a fazer uma “gestão de likes e lives” – o que, convenhamos, é muito pouco para o tamanho do embate eleitoral que se prenuncia para o 2º maior colégio eleitoral do Estado. No ritmo de hoje, os votos para a chapa da reeleição serão ralos em Aparecida, por culpa exclusiva de Daniel Vilela.
Daniel nunca deu um passo para mostrar arrependimento e se recompor com alguns dos prefeitos que ele expulsou. Adib Elias, de Catalão, e Renato de Castro, ex-prefeito de Goianésia, aguardam seu pedido de desculpas, que mostraria nobreza e seria um gesto de enorme empatia. O anapolino Roberto Naves apanha dos vereadores emedebistas, sem um aceno de pacificação por parte do segundo principal candidato na chapa que ele, Naves, vai apoiar em outubro próximo. Lissauer Vieira não foi procurado nem para ouvir a desculpa de que o MDB necessita ter candidatos pelo Estado afora para formar uma chapa competitiva para a Câmara. Aparecida segue politicamente ao léu: em meses, Daniel Vilela só esteve lá acompanhando Caiado em eventos do governo. E Rogério Cruz, apesar de ter sinalizado positivamente e até esperar uma abordagem, continua ignorado pelo presidente estadual do MDB.
Em tudo isso, tem muito de errado. Do ponto de vista dos interesses da base governista e da conquista de mais um mandato, Caiado tem sido impecável e nenhum desses equívocos pode ser atribuído a ele. É Daniel Vilela quem precisa acordar.