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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

30 mar

Zé Eliton tenta se reinventar vestindo o figurino da centro-esquerda, depois de uma vida ideologicamente bem definida como direita radical – mas, quem se importa com isso?

A política em Goiás vive um momento extraordinário. Se houvesse uma normalidade, as coisas estariam correndo dentro dos trilhos, ou seja, um processo eleitoral se avizinha e é dentro das possibilidades reais de cada candidato que eles se posicionariam, cada qual visando a consecução do seu projeto pessoal. Mas não é o que ocorre. Há aberrações aqui e ali. Uma é a candidatura a governador de Gustavo Mendanha, sem base nennuma a não ser a “missão divina” de que ele se julga encarregada depois de receber recados diretos do Senhor. Outra é a filiação do ex-vice e ex-governador Zé Eliton ao PSB, festejada pelo partido de Elias Vaz, diga-se de passagem, mas exibindo uma disfuncionalidade ideológica como poucas vezes se viu não só no Estado, como em termos de país.

Não há, na política estadual, ninguém mais à direita do que Zé Eliton. Quem pensou em Ronaldo Caiado, Delegado Waldir ou na maioria das lideranças conservadoras por esse Goiás afora, esqueça. O Zé está em uma extremidade muito além. Já publicou, por exemplo, um artigo em O Popular declarando-se ideologicamente quando Jair Bolsonaro ainda não havia chegado para deflagrar a onda reacionária no país. Ele antecipou-se. É um regressista empedernido pelas origens familiares, pelos estudos, pelo modo quadrado de pensar – e tudo isso contribuiu para a sua derrota massacrante como candidato a governador, uma missão para a qual foi escalado em um gesto suicida do ex-governador Marconi Perillo e, desculpem o jargão, leitoras e leitores, deu no que deu.

Não é, o Zé, uma pessoa de fácil convivência. A dureza no trato o levou a ser abandonado pela maioria da base governista em 2018, em uma espécie de rejeição ao seu comportamento autoritário e à pouca afabilidade que sempre mostrou, no trato geral com o próximo. Acabou servindo de receptáculo para os 20 anos de erros do PSDB estadual, que ele mesmo, em um desabafo reservado logo após o fiasco nas urnas, definiu como uma cruz que ninguém seria capaz de carregar. Pelo sim, pelo não, acabou imortalizado como o coveiro de um dos grupos políticos mais poderosos e mais duradouros da história de Goiás, reduzido a pó de traque diante do que já foi.

A verdadeira questão, quanto a Zé Eliton se filiar ao PSB, é: quem se importa com isso? Qual a importância desse ato? Nem se ele tivesse a coragem de se candidatar a qualquer mandato nas próximas eleições haveria consequências. E esquerda é ficção em Goiás. Uma utopia, desde os tempos imemoriais de Domingos Velasco, faltando ao antigo vice e governador provisório a grandeza de um Cesar Bastos, o latifundiário udenista que no fim da vida aderiu ao PT e foi até candidato pelo partido, com um discurso surpreendente. Já o Zé em fantasia avermelhada e de braços dados com Elias Vaz, continuará o mesmo que foi até hoje, como político um bom advogado eleitoralista. Só.