Mendanha senta-se sobre o próprio rabo ao ensaiar crítica a Caiado: em Aparecida, ele não cumpriu nenhuma promessa de campanha, não erigiu qualquer obra e não implantou programas sociais permanentes
Um candidato a governador, em princípio, deve ser avaliado pelo seu currículo, ainda mais quando exerceu por dois mandatos a administração de um município que é o segundo maior do Estado quanto a população – caso de Gustavo Mendanha. Não que esse seja um critério incontornável em uma eleição majoritária, como exemplifica Marconi Perillo vitorioso em 1998 sem nunca ter administrado antes um carrinho de pipoca, ainda por cima derrotando um gestor experiente e consagrado como Iris Rezende, na época.
No entanto, tendo sido prefeito de Aparecida, o nome de Mendanha precisa obrigatoriamente ser avaliado à luz do que foi a sua passagem por uma prefeitura que tem o terceiro ou quarto maior orçamento do Estado, algo em torno de R$ 1,6 bilhão anuais. Mesmo porque ele mesmo vive repetindo que pretende fazer, para Goiás, o que teria feito pela cidade que governou. Mote, aliás, que derrotou Vanderlan Cardoso em duas eleições governamentais sucessivas, nas quais tentou se escudar na administração supostamente revolucionária que fez como prefeito de Senador Canedo.
Nem Senador Canedo nem Aparecida se equivalem ao Estado de Goiás. E nem Vanderlan nem Mendanha produziram, nas suas cidades, mudanças ou avanços de excelência, a tal ponto de justificar uma eleição para governador. Porém, vamos deixar Vanderlan para lá porque o assunto aqui é Mendanha – e não é difícil concluir que a sua passagem pela prefeitura de Aparecida foi desastrosa: ele não tem uma obra de impacto para mostrar, não cumpriu uma única das suas promessas de campanha e, em um centro urbano em que o CadÚnico da União aponta a existência de 51.500 pessoas vivendo em condições de penúria, não implantou nenhum programa social permanente, isso tudo dispondo de 5 anos e 3 meses de mandato.
Mendanha foi reeleito por uma ampla maioria de votos, o que teoricamente corresponderia a uma altíssima aprovação para a sua gestão. Não, leitoras e leitores, não é bem assim. Esse resultado foi obtido à custa de muita manipulação de marketing (R$ 20 milhões anuais), da cooptação da classe política aparecidense graças a um monumental cabide de empregos montado na prefeitura, e do embalo que a prefeitura ganhou com os dois mandatos muito bem-sucedidos de Maguito Vilela. Conteúdo, Mendanha não tinha. E continua sem ter. É formado em Educação Física e nunca teve uma carteira de trabalho assinada, sempre pendurado em salários do poder público. Em uma entrevista, citou um livro de autoajuda ao ser perguntado sobre as suas leituras.
De meados do ano passado para cá, Mendanha deu amplas entrevistas a O Popular, no impresso e em vídeos postados no site. Em nenhuma delas, foi perguntado sobre Aparecida, merecendo em todas um inaceitável e injustificável tratamento reverencial, por antijornalístico. Bom para ele, que não teria o que dizer. Como faz, a propósito, em suas manifestações públicas, evitando se reportar à sua atuação como prefeito, exceto através de declarações genéricas, que escondem a farsa sob a qual se abriga. Isso se projeta na tentativa de crítica que ensaia ao governador Ronaldo Caiado, quando se senta sobre o próprio rabo – comprido – para atribuir ao antagonista os defeitos que exibe em quantidade: não cumpriu as suas promessas de campanha, não fez nenhuma obra e não implantou um só programa social permanente, apesar do volume de famílias em situação de vulnerabilidade em Aparecida.
Para piorar, Mendanha não enfrenta o debate. Escafede-se, como regra geral. Não responde a dúvidas sobre a sua pessoa e a sua conduta. É o pior tipo de político possível, apostando na desinformação e na concepção estúpida de que a sua palavra teria credibilidade acima de toda e qualquer verdade, tal como foram os seus anos de poder em Aparecida, baseados na ignorância e na ingenuidade do eleitorado local. Pode ter dado certo, ali, mas Goiás é muito maior. Não vai funcionar.