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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

02 jan

Eleição de 2022 decretou a suspensão temporária da política em Goiás

A eleição de 2022 foi a mais atípica da história de Goiás. Pela primeira vez, um candidato dotado de potencial político, no caso Ronaldo Caiado, enfrentou adversários absolutamente desproporcionais, sem forças para concorrer em uma situação de mínima igualdade de condições.

Um fato como esse não viria sem gerar consequências. Caiado ganhou e se tornou uma presença avassaladora na política estadual: simplesmente não existe oposição consistente em volume ou conteúdo. Não uma dotada de credibilidade. Marconi Perillo perdeu terreno com mais um fiasco eleitoral. Restaram destrambelhados como o deputado Major Araújo, a caminho de perder o mandato porque o seu partido, o PL, desprezou a obrigação de cumprir a cota mínima de gênero na montagem das chapas para a Assembleia e a Câmara Federal que disputaram neste ano. O castigo, digamos assim, caberá adequadamente à sua irresponsabilidade e à sua inaceitável e ofensiva língua de trapo.

Retomando o fio da meada: a política, entendida como articulação e busca pelo poder, perdeu momentaneamente o sentido em Goiás, depois do último pleito. Está suspensa até segunda ordem. Os três candidatos superados por Caiado – Gustavo Mendanha, Major Vitor Hugo e o petista Wolmir Amado – emergiram da derrota sem resíduo, sem ressonância social e sem conexões com as lideranças eleitas para a Assembleia e o Congresso. Zero à esquerda, todos eles. O insalubre Mendanha seguirá até onde permitir a sua condição de ex-prefeito de Aparecida, nada mais. Major transformou-se em fruto apodrecido do bolsonarismo decadente. Wolmir, coitado, nunca foi nada (vejam bem, leitoras e leitores: falamos aqui de política convencional, porque como reitor da PUC ele tem um legado, controverso, mas tem) e continuará sendo… nada.

Das urnas de 2022, assim, só saiu a consagração de Caiado. O resto é secundário. Nada foi gerado de útil para Goiás e para a sua história, diferentemente, por exemplo, de todas as eleições anteriores, quando sempre se colocou um debate proveitoso para o futuro do Estado e, mesmo com o insucesso, grandes lideranças se formaram. O início da Era Caiado, agora com espaço assegurado até 2026 e com chances de se estender a partir da possível eleição do sucessor previamente escolhido, Daniel Vilela. Para enfrentar esse cronograma, a oposição que sobrou não tem sequer um rascunho de plano de voo.

Isso tanto é verdade que, no discurso em nome da oposição na solenidade de posse do governador na Assembleia Legislativa, neste 1º de janeiro, o deputado Antônio Gomide fez o que nunca se viu antes: apenas deu sugestões para políticas públicas e até mesmo se permitiu elogios a Caiado, pela postura a favor da democracia. Não houve críticas.

Até 2026, portanto, dificilmente haverá novidades, talvez alguma por conta das eleições municipais de 2024, absolutamente sem condições de repercussão geral, como é a praxe: prefeitos não definem rumos e menos ainda sustentam projetos de poder. Por ora, em Goiás, a política entrou em estado de suspensão. O que será decisivo é Caiado no centro de tudo.