Ação de Vanderlan é a ponta do iceberg que vai afundar Gustavo Gayer
As peraltices nem tão infantis do deputado federal Gustavo Gayer estão se acumulando e não vão demorar a cobrar o seu preço – que, em última análise, pode ser a cassação do seu mandato. A ação proposta contra ele, na semana passada, pelo senador Vanderlan Cardoso, por calúnia, injúria e difamação quanto ao seu voto em Rodrigo Pacheco para a presidência do Senado, tem fundamentos suficientes para levar o Supremo Tribunal Federal a impor duras penas ao desavisado rapaz.
O advogado de Vanderlan é um dos melhores criminalistas do país: o goiano Pedro Paulo Medeiros. Ele pediu, entre outras medidas, a suspensão do mandato de Gayer e a inclusão do processo nos autos que tratam das fakes news e dos crimes cometidos pelo presidente Jair Bolsonaro contra as instituições. Na distribuição, a ação caiu nas mãos do ministro André Mendonça, mas não houve tempo para comemoração: Mendonça devolveu a matéria à presidente do STF Rosa Weber, para uma avaliação mais acurada sobre o encaminhamento para o ministro Alexandre Moraes, o condutor dos inquéritos sobre os atos antidemocráticos (detalhe: por abusos nos seus perfis sociais, Gayer já está arrolado em um deles). Apostas? Moraes será o escolhido por Rosa.
É só a ponta do iceberg, contudo. Outros senadores, entre eles David Alcolumbre e Jayme Campos, também foram ofendidos por Gayer na campanha contra Rodrigo Pacheco. Julgando-se muito maior do que verdadeiramente é, o deputado primeiro procurou pessoalmente Vanderlan, Alcolumbre e Campos (além de outros senadores) para tentar convencê-los a votar em Rogério Marinho, com argumentos risíveis – como o de salvação do Brasil. Não conseguindo dobrar ninguém, mudou a tática e passou a ameaçá-los e a atacá-los nas redes sociais com acusações pesadas de prática de crimes, inclusive promovendo uma divulgação intensiva, através de bolsonaristas, nos Estados de cada um. Um horror. Mais de uma das vítimas, ou seja, mais de um senador chegou a dizer que o assédio de Gayer só teve como resultado o aumento da convicção do apoio em Pacheco.
Pois bem: esses senadores também estão ingressando com ações no STF. E seus partidos vão acionar o Conselho de Ética da Câmara. Gayer será cercado. E que não conte com a imunidade parlamentar. A jurisprudência do Supremo é clara: falas ou ações não ligadas diretamente ao exercício do mandato não são protegidas pelo instituto. Parece ser o caso. E isso em um Judiciário que não tem a menor simpatia pelo extremismo bolsonarista. A irresponsabilidade de Gayer, dessa vez, o colocou em uma fria.