Informações, análises e comentários do jornalista
José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

25 fev

O voo de pato da direita em Goiás: eleitoralmente até forte, mas politicamente muito fraca

Jair Bolsonaro ganhou a eleição em Goiás, com 58% dos votos. Não é uma maioria acachapante. Mas ganhou. E ainda beneficiou figuras apagadas como Wilder Morais para o Senado e Gustavo Gayer para a Câmara Federal, este com um resultado espetacular. Seu candidato a governador, um desconhecido em terras goianas, faturou mais de 500 mil votos. Tudo isso deveria levar a uma conclusão: a direita estadual é sólida e tem futuro. Só que não é bem assim.

Números produzidos pelas urnas não se projetam obrigatoriamente na política. Esse é um fenômeno observado com facilidade no caso de celebridades do rádio e televisão detentoras de mandatos legislativos. Às vezes, atingem votações recordes. O que dizem e o que fazem na sequência, no entanto, não repercute e não tem importância. Está aí, para testar essa fatalidade, a deputada federal Silvye Alves, recordista de sufrágios em 2022. Se não mostrar serviço, ela não terá luz. Todos os perfis assemelhados anteriores a Silvye não chegaram a lugar nenhum (Sandes Jr., por exemplo) e nunca foram levados a sério.

Liderança política depende de inteligência, capacidade de articulação, contextualização e mais uma infinidade de fatores, entre os quais uma forte identificação com correntes de opinião. Não decorre automaticamente de uma eleição. Em Goiás, professores, funcionários públicos, médicos e políticos profissionais costumam desenvolver carreiras bem-sucedidas e ocupar postos decisivos de poder, enquanto comunicadores, cantores e outros artistas, digamos assim, não conseguem ir além do voo de pato. É mais o menos o que se passa com a direita em Goiás.

Primeiro, não é aceitável definir o Estado como bolsonarista: Lula alcançou aqui um índice de 42% (bastaria tirar 3% de Bolsonaro e haveria um empate). Segundo, o eventual desfecho favorável nas urnas ocorrido no ano passado, como dito nos parágrafos anteriores, não está se refletindo no palco da política, pela incapacidade e ausência de estofo dos nomes vitoriosos. E, por último, a direita que cresce e tende a se consolidar daqui para a frente é a civilizada, a democrática, não a estúpida ou a imbecilizada que momentaneamente esteve em alta com o ex-presidente hoje exilado na Flórida. Aliás, nem direita é, porém uma espécie de centro, na verdade, repleto de valores e de personagens qualificadas – e é daí, é possível prever, que sairá o vencedor da próxima eleição para prefeito de Goiânia.