Passou o tempo em que governar era só construir obras: hoje, serviços estão em primeiro lugar
Em 2010, o planejador-mor do então candidato a governador Marconi Perillo foi mais uma vez, como sempre, Giuseppe Vecci. E, daquela vez, Vecci resolveu ousar. Fugir do ramerrão da promessa de obras volumosas que foram o clichê de todos os governos a partir de quando Pedro Ludovico edificou Goiânia e fixou no imaginário da política estadual a ideia da medição do sucesso de uma gestão pela régua do cimento, aço e areia (e aqui entra a síntese de tudo isso, o asfalto).
Iris Rezende, na retomada gloriosa da sua trajetória política com a vitória arrasadora de 1982, sacramentou essa visão realizadora iniciada com Pedro. E a partir daí o conceito se firmou: governo bom é governo que constrói. Marconi veio na sequência propondo-se como alternativa a Iris, mas nos 20 anos após o seu triunfo em 1998 não divergiu e também escolheu o mesmo caminho: obras.
O tucano-mor de Goiás chegou a ensaiar algo diferente dessa linha de ação administrativa. Por um tempo, dizia ser um governador sem uma prioridade específica, apresentando-se como focado em todos os campos de atividade de um governo. Durou pouco e ele se voltou para a trilha batida dos investimentos em infraestrutura etecétera e tal. Obras, em resumo. Em 2010, Vecci enxergou além e abriu um parênteses de curta duração. O plano de governo que ele elaborou para Marconi, na época, falava em uma mudança radical na Saúde, Segurança e Educação, setores vitais para a vida cotidiana em Goiás. Sim, uma obra aqui e outra ali. O centro da gestão, contudo, seria sanar em definitivo as demandas da sociedade por hospitais qualificados, redução drástica da criminalidade e ensino de alto nível nas escolas estaduais.
Serviços e políticas públicas avançadas, enfim. Um programa de governo pé no chão, liquidando com uma obsessão da classe política inexistente em Estados como São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, por exemplo, onde as gestões são avaliadas pela capacidade de levar bem-estar e frutos civilizatórios às cidadãs e aos cidadãos. Não apenas pelo que constroem.
Marconi venceu em 2010. Não implantou o planejamento de Vecci. Incrivelmente, quem o fez foi Ronaldo Caiado. Durante o seu primeiro governo, Caiado recebeu uma saraivada de críticas da oposição sob a acusação de não ter obras. Não adiantou nada: o eleitorado, em sua sabedoria, entendeu que a proposta a partir de 2019 era outra, a de resolução da eficiência das políticas públicas em Goiás. Assim como, a partir de 2023, o que valerá será governar para os pobres, como o próprio governador repete a cada dia. Eis a razão da reeleição.
Haverá obras. Caiado está com os cofres abarrotados para fazer as que quiser. Mas as principais continuarão a ser as imateriais. Aquelas que se sentem, mas não se veem. Saúde, Segurança e Educação, mais programas sociais, cultura, municipalismo e outras frentes de trabalho ao gosto de Caiado e conforme as necessidades das goianas e dos goianos. O mundo mudou. Pensem nisso, leitoras e leitores.