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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

01 mar

Bolsonaristas e agro acham que Caiado virou “comunista” ao decidir governar para os pobres

Caiado “comunista”. O título desta nota pode parecer absurdo. Mas tem explicação. Quando o governador Ronaldo Caiado e o agro em Goiás romperam o relacionamento histórico de décadas, a partir do resultado das eleições de 2022 e da instituição da taxa sobre os produtos rurais, foi isso que a turma da fazenda (bolsonarista por natureza) passou a pensar. Confiram a estória toda.

Para dialogar sobre o novo imposto, Caiado se dispôs na época a receber uma delegação de supostos líderes do agronegócio. Na data e no horário combinados, apareceram 20 “representantes” desse setor estadual da economia. O governador viu nesse número elevado uma estratégia de pressão e só permitiu a entrada de dez no seu gabinete. A conversa foi duríssima.

No seu estilo franco, que costuma inibir eventuais interlocutores, Caiado reclamou ter sido traído eleitoralmente. Mostrou números. Em cidades icônicas do Sudoeste, a zona mais característica do agro em Goiás, chegou a perder em cinco cidades (a sexta foi Goianésia). Embora tenha vencido em 240 municípios, ganhou por uma diferença irrisória em grandes centros como Rio Verde e Jataí. O bolsonarismo contagiou esse eleitorado, atraído pelas candidaturas de Major Vitor Hugo e em alguns casos de Gustavo Mendanha, abandonando o guia que passou uma vida defendendo os interesses do chamado “homem do campo”.

O tête-à-tête no gabinete principal do palácio prosseguiu. Caiado trovejava e ninguém objetava. Ele revelou considerar a sua reeleição resultado das políticas de apoio às famílias em vulnerabilidade, comandadas pela primeira-dama Gracinha. Fora daí e com a rasteira do agro, teria havido 2º turno, colocando em risco o segundo mandato. Por isso, a irreversível decisão de “governar para os pobres”, mote da gestão a partir de 2023, sem falar nos inacreditáveis R$ 4,5 bilhões investidos nos programas sociais entre 2019 e 2022.

E sem esquecer o agro, frisou ironicamente o governador:  a criação do Fundeinfra, para cuidar das estradas e pontes pelo Estado afora, com recursos oriundos da contribuição fiscal dos próprios produtores rurais, seria a prova. Por fim, acusou o assédio sobre os deputados, quando prometeram PIX para pagar por eventuais votos contra o novo imposto. “Tenho os documentos”, emendou Caiado.

Saíram todos de cabeça baixa, depois do “pito”. Haviam participado de uma espécie de cerimônia de divórcio. O “novo” Caiado, surgido após a reeleição e a cirurgia de ponte de safena, agora confirmava que é mesmo outro Caiado, preocupado, tal qual o presidente Lula, com a base da pirâmide populacional, ou seja, com os pobres. Seu governo é para eles. Virou “comunista”, enfim, na visão ideológica primitiva do agro bolsonarista e troglodita.