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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

28 mar

Sem juízo, agro em Goiás se bolsonarizou ao ponto de sonhar com Vitor Hugo governador

A maioria dos dicionários de português disponíveis na internet hoje define o verbo bolsonarizar como “falar coisas sem nexo, sem sentido, bostejar, contrariar algo já cientificamente comprovado”. Essa é parte da trágica herança cultural deixada pelos anos de Jair Bolsonaro na Presidência da República, ainda assim com o condão de atrair milhões de simpatizantes. Dentre eles, a chamada turma do agro, em Goiás.

Para essa gente, Bolsonaro seria uma barreira contra a ameaça comunista. Onde? Como? Ninguém sabe, mas o agro foi ao extremo de achar que até o governador Ronaldo Caiado teria seus arroubos “comunistas”, como, por exemplo, ao anunciar governar para os pobres como foco do segundo mandato. Eles abraçaram o ex-presidente acreditando em uma tábua de salvação contra a invasão das suas terras e o confisco da produção para matar a fome dos vulneráveis.

Com essa ideologia tosca na cabeça, dentro da qual o único ponto racional é a reação às invasões de terra, inconcebível em uma democracia e inaceitável quanto ao Estado de Direito, o agro em Goiás chegou a cultivar delírios como eleger governador o então deputado federal Major Vitor Hugo, um completo desconhecido no Estado e além disso um não-político sem qualquer plataforma mínima para as goianas e os goianos, a não ser o alinhamento com Bolsonaro.

Essa atitude infantil configurou um erro político grave: ao trair Caiado, o agro cortou o vínculo com uma liderança históricamente fiel ao dito homem do campo, um parlamentar em alguns momentos carregando sozinho as bandeiras da valorização da agropecuária e, mais modernamente, do conjunto do agronegócio. O troco veio com a reeleição do governador com o apoio das famílias beneficiadas pelos programas sociais e a subsequente decisão de taxar o que sai da fazenda, com exceção dos alimentos da cesta básica.

Derrotado, com apenas 500 mil votos, Major Vitor Hugo só colocou os pés em Goiás por uma única vez, desde 2 de outubro, data do 1º turno vencido por Caiado. Não apareceu, por exemplo, na abertura da 20ª Tecnoshow, uma das três mais importantes feiras de tecnologia rural do país. Ninguém sabe por onde anda, muito menos a maciça maioria do agro que acreditou que a sua candidatura era para valer e ficou sem retorno.

O agro nos últimos quatro anos assumiu-se como a nata do bolsonarismo sem inteligência e sem preparo intelectual para sequer defender os seus próprios interesses. Contra a criação da contribuição fiscal sobre parte da sua produção, não soube apresentar argumentos convincentes. Limitou-se a irresponsabilidades como a invasão do plenário da Assembleia e a tentar organizar um protesto contra Caiado na Tecnoshow, sem conseguir. Típico. Deixou de ser, na política, o protagonista que é na economia, muitas vezes carro chefe do crescimento do PIB estadual. Perdeu o rumo.