Falta de interação é o principal erro dos políticos goianos nas redes sociais
Desde quando tiveram influência na primeira eleição de Barack Obama para presidente dos Estados Unidos, em 2008, as redes sociais passaram a ocupar uma posição de prioridade em qualquer projeto político, seja qual a parte do mundo. Claro, não poderia ser diferente em Goiás, onde todos os profissionais do ramo mantêm equipes supostamente especializadas em explorar favoravelmente mídias como o Facebook, o Instagram ou o X, antigo Twitter, dentre outras, geralmente pagas com dinheiro público. O resultado, não é exagero afirmar, aproxima-se de um desastre em matéria de comunicação eficiente.
A maioria, em Goiás, aposta em conteúdo declarativo ou informativo. Publicam lá o que estão falando e fazendo. Resumem-se a isso, deixando de lado a principal vantagem oferecida pelas redes sociais; a interação. Na verdade, manifestam-se exclusivamente em modo monólogo, ignorando duas vertentes, uma a dos seguidores ou comentadores dos seus posts, outra a das demais contas que navegam em águas semelhantes ou focam temas ou área de atuação parecida. Não se reportam. Investem em pratos de comida, pets, lazer com amigos e parentes, família feliz e por aí afora, na expectativa de se humanizar e de apresentar como gente igual a gente.
Só que gente como a gente conversa com a gente. Sem isso, o que sobra serve para artificializar ainda mais políticos que já são genericamente vistos como pessoas negativas e interesseiras. Observem, no momento, as manifestações do senador Vanderlan Cardoso no Instagram. Ele ostensivamente deu uma guinada e tenta se “democratizar”, fugindo da imagem de milionário, por um lado, e de senador que faz ninguém sabe o quê em Brasília, por outro (a desinformação é natural no caso do mandato senatorial, que distancia os políticos das suas bases). A motivação é óbvia; candidato a prefeito de Goiânia em 2024, Vanderlan imagina preparar o terreno para a futura campanha e contratou um dito perito em redes sociais que tirou a espontaneidade que ele tinha e o transformou em um ator de cinema em cenas em casa, pescarias, quiosques de beira de estrada e outras situações que seriam inerentes ao dia a dia de uma pessoa comum, tudo isso misturados com aparições no plenário do Senado Federal. É uma mistura indigesta. Ele não precisaria mais do que mostrar o que é, um gestor nato. Ponto final.
Vanderlan patina em 60 mil seguidores no Instagram, muito pouco diante dos mais de 1,7 milhão de votos que teve em 2018 para a mais alta Câmara Legislativa do país. Existem dezenas de casos parecidos, entre detentores de cadeiras na Câmara Municipal de Goiânia, na Assembleia Legislativa e em Brasília. A maioria das contas recebe tratamento de agência de notícias. São releases animados, mas releases, fatos, nada mais, sem respostas, conexões ou “convívio” online com os apoiadores ou mesmo meros curiosos de passagem. É sempre um desperdício quanto a um instrumento hoje de valor incomensurável para sustentar projetos políticos.
O governador Ronaldo Caiado é uma exceção. Mesmo ascendendo ao Palácio das Esmeraldas, ele não perdeu a simplicidade que no passado foi a marca dos seus posts notadamente no Instagram. Talvez o tom de voz, 100% goianão, talvez o jeitão entusiasmado com tudo o que protagoniza, evidenciando sempre autenticidade e pureza de intenções, tudo isso somado funciona. Diferentemente da maioria dos políticos estaduais, Caiado tem milhões de seguidores, somados. Responde aos comentários e dá a impressão de que é ele mesmo que toca as suas redes, se é que não é, apesar dos números massivos que dificultam a colocação de um ponto de vista individual, ou seja, sozinho seria impossível. Quase sempre, ele consegue. Está por cima – é o governador do Estado – e isso distancia, porém é recebido como alguém próximo e genuíno em seus propósitos, bastando conferir nas centenas de comentários que se sucedem às suas publicações. Atenção para o detalhe: muitas ou pelo menos as mais significativas, ele replica.
Políticos precisam partir da constatação de que têm a credibilidade baixa para ter sucesso em seus canais de ligação com a sociedade. Isso vale para a classe como um todo, permanentemente sob pressão de uma opinião pública abrangente e exigente. A fórmula certa para as redes sociais é uma espécie de velo de ouro e muito dificilmente passível de precisão. Há doses elevadas de aleatoriedade, um quê de vinculação à simpatia natural de cada um e de demolição benéfica de carapaça vendida no lugar do ser humano real. No final das contas, poucos acertam.
Atualização, às 12hs de 02/10 – Mal publicada a nota acima, recebi comentários de leitoras e leitores registrando ojeriza a posts de políticos exibindo cenas idílicas com esposa e principalmente filhos, mesas fartas em restaurantes ou mesmo em casa, viagens paradisíacas (como a do senador Wilder Morais a Saint Tropez, na França, hospedado em um hotel de R$ 6 mil a diária), residências luxuosas, ações forçadas de caridade e sobretudo vida mansa, de bermuda e chinelão, dentre outras. Não vou citar detalhes, aqui, mesmo porque está tudo lá, escancarado, nas redes sociais. Claro está que o feito para criar proximidade, na cabeça de marqueteiros, termina é aumentando a distância.