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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

25 mar

Interesse de Bolsonaro em Vitor Hugo no Senado viabiliza composição do PL com o MDB e apoio a Daniel Vilela

O ex-presidente Jair Bolsonaro, que se considera líder máximo da direita brasileira, já disse que, para ele, as eleições senatoriais em 2026 serão muito mais importantes que as para os governos dos Estados. A justificativa do Jair é simples: constituindo-se uma maioria conservadora bem definida no Senado, será possível decretar o impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal e aprovar emendas constitucionais favoráveis a questões valiosas para o bolsonarismo, como o anti-identitarismo e a segurança pública.

Atenção, leitoras e leitores: não se trata de papo furado de Bolsonaro. A estratégia tem sentido e não à toa ele mandou um recado para o senador Wilder Morais, presidente do diretório goiano do PL, avisando que será ele, Bolsonaro, quem vai decidir sobre as candidaturas do partido à mais alta câmara legislativa do país. Wilder, se tivesse juízo, deveria ter colocado as barbas, ou melhor, o cavanhaque, de molho. O ex-presidente já escolheu um nome da sua confiança e preferência para disputar o Senado por Goiás e não vai abrir mão para ninguém, nem mesmo para o deputado federal Gustavo Gayer (entenda o motivo nos próximos parágrafos). Trata-se do vereador Vitor Hugo, colega de turma do capitão na Academia Militar das Agulhas Negras e amigão do peito. Vitor Hugo é o nome que o Jair quer no Senado talvez até para liderar a sua futura bancada, se ele conquistar a maioria de dois terços que almeja (e há chances de).

 

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Duas vagas senatoriais estarão à disposição, por Goiás, na próxima eleição. O PL poderia lançar Vitor Hugo e Gayer e, bingo, o problema estaria resolvido. Mas não é bem assim. Compartilhando a mesma raia, um tiraria preciosos votos do outro e se atrapalhariam mutuamente. Além disso, uma das cadeiras praticamente tem dono – ou dona – desde já: a primeira-dama Gracinha Caiado. Depois, pelo efeito de arrastão, Gracinha configura-se desde já como uma candidata tão forte que teria poder para reforçar a votação de um segundo postulante mais identificado com a chapa da base governista (que, a exemplo de 2022, acabará tendo vários candidatos ao Senado e não apenas dois). Aí é que as coisas se complicam para Gayer: trata-se de alguém hoje com fama sólida de destrambelhado, meio bufão, também  muito queimado diante dos escândalos inclusive de corrupção em que se envolveu e que enfraqueceram o seu desempenho no Congresso. Ele será vítima do projeto político de Vitor Hugo, que pretende concorrer ao Senado ao lado do candidato a governador Daniel Vilela, levando o PL para uma composição com o MDB e o UNIÃO BRASIL, indiscutivelmente facilitadora para as suas ambições, contra a qual Bolsonaro repete sempre nada ter em contrário.

Não à toa, o ex-presidente vem se referindo cada vez mais a Vitor Hugo como “senador” e “meu senador”. São muitas as testemunhas que ouviram essa expressão da boca do Jair, inclusive há poucos dias, a 21 de março, quando o vereador ligou de vídeo para cumprimentar o ex-presidente pelo seu aniversário, na presença de um grupo de amigos. Todos escutaram. Para Wilder Morais e para Gustavo Gayer, é mais um sinal negativo do que vem aí, qual seja o atropelamento dos planos que alimentam para 2026, Wilder de olho no Palácio das Esmeraldas e Gayer sonhando com o Senado. Tudo indica que vai dar para trás. Coligado com MDB e UNIÃO BRASIL, o PL tende a lançar apenas um candidato, apesar das duas vagas, e esse seria Vitor Hugo. Se assim quiser Bolsonaro – e parece querer – ninguém tem força para impedir.