Personalidade peculiar de Caiado, que tem preocupação obsessiva com a sua biografia, leva à conclusão de que será um governador pouco ousado e, ao contrário do prometido, incapaz de mudanças reais
Não esperem, leitoras e leitores, que o governador eleito Ronaldo Caiado cumpra na sua gestão o principal compromisso que formulou na campanha, o de promover uma mudança profunda no Estado que receberá a partir de 1 de janeiro.
Não são as palavras que falam por um homem público, mas os seus atos concretos. A retórica de Caiado foi de que haveria algo de novo no seu governo, mas os gestos iniciais que já tomou por conta da sua administração – a concordância com a anistia às dívidas de ICMS e com a reinstituição dos incentivos fiscais, ambas as medidas favorecendo maus pagadores e privilegiando ainda mais um grupo VIP de empresas – indicam que o caminho a seguir será de manutenção do chamado status quo.
Nunca a personalidade peculiar de um governante terá tido tanta influência na administração como vai ser no caso de Caiado. Inovações e mudanças de rumo significam risco e isso é algo que ele, obsessivamente cioso da sua biografia e até limitado por ela, não vai assumir.
Caiado nunca foi envolvido em malfeitos e menos ainda em confusões ou sequer mal-entendidos, favorecido pelo rigor com que conduziu a sua solitária vida parlamentar, longe de grupos ou qualquer tipo de associações. Mas isso aconteceu no Legislativo. Agora, pela primeira vez no Executivo, vai se deparar com uma realidade que exige posicionamento ou tomada de partido a cada embate, com os inevitáveis desgastes e insatisfações de quem for prejudicado pelas suas decisões. A unanimidade que foi como deputado federal e senador não existirá mais.
As suas primeiras resoluções mostraram titubeio e receio de contrariar setores poderosos, que têm capacidade para disparar contra a sua imagem, como as entidades que representam as 600 empresas incentivadas que operam em Goiás. Deixou passar também uma permissão, pela primeira vez na história da Secretaria da Fazenda, para que impostos atrasados sejam quitados com títulos podres de crédito outorgado em vez de obrigatoriamente em dinheiro. São atitudes que antecipam a pouca capacidade de enfrentamento que o seu governo terá diante dos desafios mais fortes e estressantes. E apontam para uma escassa disposição para mudanças que possam causar polêmicas barulhentas.