“Conchavos” políticos que Caiado condena no passado são os mesmos que ele está fazendo agora e, pior ainda, para os quais modificou a legislação que proibia dirigentes partidários em estatais
O governador Ronaldo Caiado, aquele que assumiu proclamando que a era dos “conchavos” políticos com o aparelhamento de cargos públicos havia se encerrado em Goiás, já está com a corda solta para fazer os seus – chegando ao exagero de modificar uma lei para permitir a nomeação de apadrinhados e aliados em funções importantes do governo, em alguns casos gente sem nenhuma experiência na área onde irão “trabalhar”.
No começo desta semana, ao citar a primeira parte da reforma administrativa no balanço do seu primeiro mês de gestão, Caiado disse que havia extinto as cinco secretarias extraordinárias existentes exatamente porque, para ele, só serviam para “conchavos” nos governos passados e não atendiam a nada do interesse dos goianos.
Isso significa que, como anunciou o governador, a era dos “conchavos” acabou em Goiás? Não, leitora e leitor. Ao contrário, piorou. Enquanto discursava publicamente contra os “conchavos”, Caiado já tinha assinado, no recôndito do seu gabinete, uma modificação no decreto que regulamentou a aplicação das Lei das Estatais, no Estado, com o objetivo de permitir a nomeação de políticos militantes em cargos importantes em empresas públicas e autarquias estaduais. Com essa alteração, o governador ficou livre para efetivar, por exemplo, o ex-prefeito de Bela Vista Eurípedes José do Carmo para presidir a Agehab (e olha o detalhe: Eurípedes é processado pelo Ministério Público por irregularidades na construção de… casas) e também o presidente do PRTB Denes Pereira para o comando da Iquego (além de nada saber de medicamentos, a não ser tomá-los, eventualmente, Denes esteve na presidência da Comurg, que foi obrigado a deixar exatamente pela proibição legal de ocupação do cargo por dirigentes partidários).
Fosse um governador qualquer e nada haveria a dizer, uma vez que governantes são assim mesmo e todo mundo sabe que nenhum sobrevive sem “conchavos”. O problema é que se trata de Caiado. Ele, que vive invocando a sua imensa autoridade moral e aparentemente montou um governo com prioridade para a capacitação técnica dos seus integrantes, acabou repetindo a mesma prática que era rotina nos governos passados. Ou seja: Caiado, que diz ser contra os “conchavos” políticos, também faz os seus, com o agravante de que ousa modificar leis para facilitar a colocação de dirigentes e ex-dirigentes partidários em pastas de importância ou para as quais não têm nenhum preparo profissional. Um outro exemplo foi a tentativa de nomeação de um ex-prefeito de Americano do Brasil, estranho aos assuntos de água e saneamento, para a vice-presidência da Saneago (barrada pelo conselho de administração da empresa com base na proibição imposta pela Lei das Estatais).
A jornalista Fabiana Pulcineli definiu na rádio CBN a decisão de Caiado de mexer na regulamentação da Lei das Estatais para poder nomear dirigentes partidários e fazer assim os seus “conchavos” como incoerência. Correto. Mas é muito mais. Incoerência é uma palavra leve para expressar o que, na verdade, é a primeira grande traição do governador aos seus próprios princípios.