Enquanto persegue quimeras como uma milagrosa ajuda do governo federal ou uma decisão do STF para reduzir salários do funcionalismo, Caiado perde tempo precioso para fazer logo um ajuste fiscal
O tempo é uma commodity valiosa que o governador Ronaldo Caiado, com uma carreira política condicionada pela lentidão dos processos legislativos, parece não saber manejar, agora que pela primeira vez na sua vida foi eleito e assumiu um cargo executivo.
Já são quase um mês e meio de mandato, sem falar nos três meses desperdiçados em 2018, a partir da sua eleição em 7 de outubro – e nem sequer a equipe de trabalho do governo de Goiás está completa. Longe disso, aliás. Para piorar as coisas, a maioria do secretariado veio de fora, nunca havia pisado antes em terras goianas e gasta os dias e as semanas se desdobrando para conhecer as suas áreas de trabalho e a realidade do Estado. No início de janeiro, o Palácio das Esmeraldas pediu a todos sugestões para reduzir em 20% as despesas das suas pastas e também uma nova configuração para efeito da segunda parte da reforma administrativa, porém muitos ainda não conseguiram entregar a encomenda. Em consequência, as decisões finais foram adiadas para meados de março, quando um projeto deverá ser remetido à Assembleia – e podem apostar, leitora e leitor, que esse prazo não será cumprido.
O maior engasgo do novo governo, no entanto, não é esse – e é muito pior. Caiado e estrelas como a secretária de Economia Cristiane Schmidt sonham acordados com soluções miraculosas para a crise fiscal do Estado, adiando a adoção de mediadas que, sendo de competência local, poderiam já ter sido adotadas, como a extinção de órgãos, estudos para concessões e privatizações, suspensão de aumentos salariais (ao contrário, reajustes foram concedidos em janeiro), leilões de pagamento e o ataque à grande ferida que mina a saúde financeira de Goiás: a irresponsável e exagerada política de incentivos fiscais. Tudo isso é para ontem, mas o novo governo prefere aguardar o que nunca virá, ou seja, uma mudança na rígida posição de Brasília contrária à flexibilização das exigências de enquadramento dos Estados no programa de recuperação fiscal ou uma decisão do Supremo Tribunal Federal autorizando a redução dos salários do funcionalismo, o que nunca vai acontecer porque atingiria um dos dogmas jurídicos mais sólidos do país – o direito adquirido.
O tempo perdido por Caiado vai custar caro para os goianos. Na prática, ele completa daqui a pouco cinco meses de “mandato”, considerando o prazo decorrido desde que foi eleito e que poderia, a partir o dia seguinte ao do resultado das urnas, para adiantar decisões, montar a equipe, definir propostas e acelerar a busca das saías para a calamidade financeira de Goiás. Em vez de seguir por esse caminho, o novo governador prefere perseguir quimeras.