A pergunta que ninguém sabe responder e O Popular faz de novo nesta terça: por que Caiado, parlamentar experiente como poucos, não consegue formar uma base na Assembleia?
O governador Ronaldo Caiado caminha para mais uma derrota de impacto na Assembleia Legislativa. O primeiro revés, como se sabe, foi a eleição de Lissauer Vieira para a presidência do Poder, atropelando o candidato do Palácio das Esmeraldas (Álvaro Peixoto). O próximo vem aí: será a aprovação da ampliação do orçamento impositivo para 1,2%, com obrigatoriedade de pagamento para as emendas dos deputados – valor de R$ 7,5 milhões para cada um – até o mês de julho de cada ano. Caiado não quer isso de jeito nenhum, mas vai ter que engolir.
Há pelo menos 50 anos que não se registra um governador sem o respaldo da Assembleia. O último foi Otávio Lage, na década de 60. É difícil entender como é que Caiado, que foi deputado e senador durante mais de 20 anos e tem experiência parlamentar profunda, não consegue o que todo e qualquer governo tem como rotina, que é a garantia de aprovação dos seus projetos no Legislativo. Uma das regras fundamentais do poder é que não se brinca com fogo, sob risco de se queimar e virar cinzas. Largar os deputados para lá é colocar em risco a governabilidade é pior, é caminhar à beira do abismo.
Mas por que Caiado não consegue formatar a sua base de apoio na Assembleia. São muitas as respostas. O próprio presidente da Casa, Lissauer Vieira, avalia que tem gente demais atrapalhando as articulações. E citou um: o secretário de Desenvolvimento Social, ex-prefeito de Santa Terezinha e caiadista histórico Marcos Cabral, cuja função não tem nada a ver com palpitar em política. Outro fator apontado por Lissauer Vieira é que o governador apontou o seu secretário de governo Ernesto Roller como seu negociador com os deputados, mas não dá a ele a credencial e a força necessárias. Assim, não funciona. O chefão da Assembleia ainda citou a fraqueza do líder do governo, Bruno Peixoto, que acerta soluções com os colegas, mas também não as vê concretizadas.
À boca pequena, comenta-se que a primeira dama Gracinha também tem interferido. Mulher de governador se metendo na política é veneno puro. Dizem que ela não só gosta, mas tem o sonho de se candidatar algum dia e estaria construindo o seu projeto. O problema é que a interlocução com Gracinha deixa os deputados arrepiados, já que têm o receio, fundado, de que ela leve reclamações ou se queixe de um ou de outro ao marido. É preciso pisar em ovos no relacionamento com a dita cuja. Consta ainda que a primeira-dama & família estariam pressionando Caiado para não ceder à “velha política” e evitar fazer concessões fisiológicas a quem quer que seja, mesmo porque há o compromisso com a “mudança” prometida na campanha e que, certamente, foi fundamental na sua eleição.
Foi certamente por isso que o deputado Humberto Aidar mandou um duro recado ao Palácio das Esmeraldas, ao afirmar, em declarações publicadas pelos jornais, que Caiado precisa mostrar quem manda no governo. É claro que está se referindo a Gracinha e ao seu rigoroso controle sobre as nomeações e demais decisões de importância, que ela tem nas mãos através do secretário da Casa Civil Anderson Máximo, aquele que não dá um passo sem antes pegar na barra da saia da primeira-dama.
Pelo sim, pelo não, a classe política estadual se acostumou a um governador, nos últimos 20 anos, que sabia mexer o doce em matéria de angaria apoio e simpatia. Marconi Perillo fez e desfez, sem jamais tropeçar em obstáculos na Assembleia. Caiado está com a sua gestão semiparalisada, sem condições de avançar com questões importantes, como a segunda parte da reforma administrativa, para a aprovação legislativa. Está travado e não consegue de avançar com o seu projeto de governo, que ninguém sabe ainda qual é.