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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

22 jun

Como senador, Caiado condenou a cobrança injusta e ilegal do DIFAL, que agora defende ardorosamente, como “golpe no bolso no empreendedor goiano”

O governador Ronaldo Caiado gosta de se apresentar como um político diferente, ético, coerente e muito comprometido com os interesses do povo goiano. Aliás, foi por conseguir convencer o eleitorado de que é assim que ele venceu com uma votação espetacular, em 1º turno, as eleições para o governo do Estado. Mas…

 

Mas não se iludam, leitora e leitor. Caiado é apenas um político, mais um, entre tantos. Talvez se prosseguisse eternamente como parlamentar, sem assumir jamais um mandato executivo, ele pudesse passar à história como um líder qualificado em meio a um cenário povoado por farsantes, malandros e, principalmente, por gente que tem uma palavra hoje e outra amanhã, ao sabor dos seus interesses. Sem ser testado, manteria a sua boa imagem. Adiando responsabilidades, poderia se preservar. Só que, como governador, acabou ficando face a face com a realidade e acabou mostrando sua verdadeira cara.

 

Ora, foi justamente como governador que Caiado passou a ter a chance de realizar e concretizar, muito além do palavrório de um deputado ou senador, as ideias que tem e as opiniões que compartilha sobre assuntos de interesse da sociedade. E aí a cobra fumou. Descobriu-se que existem dois Caiados, um antes e outro depois da estadia a que ganhou direito no Palácio das Esmeraldas. E o Caiado de agora engole desavergonhadamente o que o Caiado de antes pensava e dizia.

 

Vejamos o caso, importantíssimo, do DIFAL, um imposto nefando criado pelo ex-governador Marconi Perillo em 2017, ilegal (e inconstitucional), que obriga as milhares de empresas beneficiárias do Super Simples, em Goiás, a pagar a suposta diferença de ICMS entre a origem e o destino, muito além do regime tributário a que estão submetidas. É uma aberração. Agora, olhem só: quando Marconi baixou o decreto instituindo o DIFAL (o que já é uma excrescência, já que impostos só podem ser criados por leis ordinárias), o então senador Caiado reagiu com firmeza. “O golpe agora é no bolso do microempreendedor goiano. Mais um aumento de tributo para os goianos, que estão pagando para sustentar o Estado que Marconi literalmente quebrou. É hora de ficarmos atentos, pois decisões deste teor se multiplicam todo final de ano, para não chamar a atenção. É por isso que Goiás quer mudar em 2018”, disse ele e pode ser comprovado sem a mínima dúvida por uma nota publicada no próprio site de Caiado.

 

Pois bem. Goiás mudou nas eleições de 2018 e elegeu Caiado governador. Mas em seguida ele é que mudou. Passou a ser um ardoroso defensor do DIFAL, ou seja, admitiu que compactua com a aplicação do que ele mesmo definiu como “um golpe no bolso do microempreendedor goiano”. Não é só isso. Caiado enviou à Assembleia, que debate um projeto de revogação do DIFAL, um alentado parecer, em que argumenta pela constitucionalidade desse imposto e ressalta entender que a sua manutenção é essencial para a saúde financeira do Estado. No final das contas, pisoteando a sua biografia e se expondo como um político qualquer. Caiado não é mais Caiado. Está provado que a sua palavra não vale nada.