Cantado em prosa e verso, principalmente por ele mesmo, prestígio nacional de Caiado e trânsito em Brasília até hoje não serviram para trazer um centavo para Goiás nem para mais nada
“Usarei o conhecimento e prestígio que tenho junto ao governo federal para resolver os problemas de Goiás”, disse o Ronaldo Caiado logo após assumir o governo do Estado, no início do ano. Passados seis meses, aliás quase sete, é possível resumir: até agora, esse “conhecimento” e esse “prestígio” não serviram para trazer um centavo ou para render alguma coisa de positivo para os goianos.
O que Caiado mostrou é que, de fato, tem conhecimento e sabe transitar em Brasília, pelos corredores do Congresso ou pelos gabinetes da Esplanada do Ministério. É bem recebido por parlamentares e por ministros, até pelo presidente da República. Isso evidencia algum prestígio, é verdade. Mas apenas formalmente (e para posar fotos e vídeos sorridentes que depois aparecem nas redes sociais). Na prática, em termos de conteúdo, de soluções, de respostas e, no final das contas, de recursos para Goiás, Caiado vale tanto quanto qualquer governador que não tem nenhum conhecimento e menos ainda prestígio na capital federal.
Acreditar na sua força e influência em Brasília custou caro para o governador goiano. Desde que foi eleito, ele vem se encontrando sucessivamente com o presidente Jair Bolsonaro e com o ministro Paulo Guedes, sempre anunciando, após, medidas que nunca foram efetivadas. Cansativamente, Caiado marcou datas – é hoje, é amanhã, é na semana que vem – para o anúncio de um plano de socorro aos Estados ou o encaminhamento de uma medida provisória autorizando o Estado a meter a mão no FCO. Em todas as vezes, acabou desmoralizado. De tudo, saiu um projeto de lei complementar criando um plano de equilíbrio fiscal para ajudar os governadores que hoje está encalhado na Câmara, sem ter dado um passo desde que foi encaminhado há mais de dois meses. Sobre a prometida mudança no FCO, não se tem notícia. E também uma decisão do Supremo Tribunal Federal, dando alguma chance para que o Estado tenha acesso ao Regime de Recuperação Judicial, que não tem a ver com “conhecimento” ou “prestígio” e sim com questões jurídicas.
No momento, a quimera perseguida por Caiado em Brasília é a inclusão dos Estados na reforma da previdência, o que o livraria de desgastes para impor ao funcionalismo estadual restrições para a aposentadoria – já que poderia alegar estar apenas cumprindo uma determinação aprovada pelo Congresso e sancionada pelo presidente. Mas não vai acontecer. Paira no ar excessivamente seco de Brasília a certeza de que os deputados federais e os senadores vão deixar essa encrenca para que os próprios Estados a resolvam, como indicou a primeira votação da reforma, que não mencionou nem Estados nem municípios. Mesmo assim, o governador passou os últimos dois dias internado no plenário da Câmara, dando entrevistas em que afirmava estar articulando a providência e ouvindo, pelo menos de um parlamentar goiano, uma dura sugestão: “Governador, para com isso e vá para Goiás trabalhar para os goianos”. Ele, que avisa com frequência não gostar de conselhos, mais uma vez não ouviu e ficou até o fim, mais uma vez sem conseguir o que queria.