Caiado baixou o nível contra Marconi alegando que a sua família foi atacada por aliados do ex-governador. Pode ser, mas ele aceitou um jogo perigoso ao permitir mulher, filha e genro interferindo na gestão
Na entrevista de 14 minutos a uma rádio de Catalão, em que desferiu os maiores impropérios possíveis contra o ex-governador Marconi Perillo, inclusive envolvendo filhas, mulher, pai e irmão do tucano, o governador Ronaldo Caiado alegou que estava sendo obrigado a baixar o nível diante dos ataques promovidos contra a sua família por aliados de Marconi.
Vamos analisar, deixando de lado o fato de que não é aceitável que uma autoridade como o governante de um Estado se arvore ao direito de recorrer a insultos e ofensas para se referir a um adversário. Ora, permitir a interferência de familiares em qualquer governo é sempre um erro que leva a graves consequências. Quando se trata da própria mulher, pior ainda. Este blog vem fazendo essa constatação desde fevereiro último, quando começou a ficar claro que a esposa de Caiado, Gracinha, não se contentou com o papel quase que decorativo de uma primeira dama. Ela queria mais. Um deputado federal ligadíssimo ao Palácio das Esmeraldas testemunhou que, hoje, Goiás tem um governador e uma governadora.
Não há precedentes, em termos de Brasil e nem mesmo em se tratando de países pelo mundo afora, de uma primeira dama atuando com a força e a presença de Gracinha no governo de Goiás. No passado, houve governadores nordestinos que chegaram perto disso, como Geraldo Bulhões, de Alagoas – que levava toalhadas molhadas da mulher Denilma quando não permitia que ela decidisse em seu nome – ou José Reinaldo Tavares, cuja mulher Alexandra metia a colher de pau em todas as ações do governo do Maranhão. Em nenhum dos dois casos, nada próximo da intromissão de Gracinha em Goiás, muito mais atuante – o que, no final das contas, expõe não só a sua pessoa como também a do seu marido Caiado.
Uma outra Alexandra, czarina da Rússia, assumiu o reinado do marido Nicolau e com uma sequência de desacertos trágicos empurrou a dinastia dos Romanov, depois de 300 anos de duração, para a sepultura – literalmente, já que ela, o marido e os sete filhos foram assassinados pelos bolcheviques. Quer dizer: não é por ser mulher, mas na verdade por se tratar de uma ingerência indevida e quase sempre de alguém que não experiência nem tato político. Gracinha, como se sabe, não foi eleita nas urnas e portanto não tem a legitimidade necessária para receber deputados, determinar nomeações ou presidir reuniões ao lado do governador, falando mais do que ele.
Ao concordar passivamente com o protagonismo da sua mulher, Caiado deveria também que admitir que ela se transformou em peça do jogo político e, a partir daí, exposta a críticas e avaliações, tal qual ele próprio. É o que ele, pelo que disse à rádio de Catalão, não quer engolir. Se alguém falar de Gracinha, está envolvendo a sua família. Mas está equivocado. Família é família só quando não se enfia nos negócios de Estado. Se entrar, é um agente público como qualquer outro. É lícito que deputados, na Assembleia, façam considerações sobre dona Gracinha ou que veículos de comunicação façam análises, até em tom de deboche, às vezes, sobre os seus atos e condutas. Se quiser preservar a sua mulher, Caiado deveria retirá-la do palco principal do governo. O mesmo vale para a sua filha Anna Vitória e para o seu genro Alexandre Hsiung, figuras que são flagradas com frequência nos bastidores oficiais, sabe-se lá fazendo o quê.