Mabel acusa a CPI de causar “má impressão” e prejudicar a economia goiana. Não é bem assim: a CPI apenas levantou o tapete e a sujeira que estava debaixo é que está provocando repugnância
O ex-deputado e atual presidente da Federação das Indústrias do Estado de Goiás não se cansa de repetir a ameaça de que qualquer mudança nos incentivos fiscais pode levar a uma desindustrialização do Estado e que a Assembleia está cometendo um crime contra a economia goiana ao permitir o livre funcionamento de uma CPI para investigar a farra das benesses tributárias nos últimos 20 anos, mais exatamente nos governos de Marconi Perillo.
Vá lá. Mabel ocupa um cargo em que é pago para defender grandes empresários, como ele mesmo, um dia, já foi, todos, também como ele quando era dono de uma fábrica de bolachas, com as burras locupletadas pelos fantásticos lucros trazidos pelos incentivos fiscais – comprovadamente muito maiores, como se sabe hoje, que o valor da produção de cada uma das empresas privilegiadas.
A última do presidente da Fieg foi afirmar, em um site pendurado há poucos dias na internet para fazer a apologia dos incentivos fiscais, que a CPI da Assembleia “só tem causado má impressão, colocando no banco dos réus indústrias geradoras de empregos” e que “os deputados estão espantando as empresas que querem se instalar no Estado”. Isso é só uma amostra, porque Mabel tem saltado muito mais longe, emitindo juízos subjetivos como, por exemplo, a afirmação de que a CPI é “deprimente”.
É bom que ele procure se informar melhor. Verificaria, por exemplo, que nenhum dos megaempresários que foram à CPI para depor conseguiu formular um raciocínio claro a favor dos incentivos fiscais, limitando-se a enumerar dados que não batem com os arquivos da Secretaria da Economia e a replicar como papagaios advertências sobre uma suposta fuga de empresas para outros Estados, caso se mexa na gandaia em que se transformou em Goiás a distribuição a torto e a direito de regalias quanto ao (não) pagamento de ICMS. Todos, sem exceção, foram incapazes justificar o tamanho exagerado dos benefícios que receberam e que estão por trás da ampliação dos seus negócios e as fortunas em causa própria que geraram. Mabel, que não é mais empresário, pelo menos de porte significativo, não foi falar à CPI, que não se interessou em ouvi-lo até agora porque está concentrada no que realmente importa, ou seja, quanto as maiores indústrias estaduais recolhem aos cofres públicos e quais e onde estão as contrapartidas em empregos e novos investimentos que se comprometeram a fazer.
Até agora, as respostas a esses questionamentos têm sido pouco convincentes. Mabel engana-se ao classificar como “má impressão” o efeito que a CPI dos Incentivos Fiscais está suscitando. Nada disso. A CPI apenas levantou – e timidamente – o tapete. A sujeira e o mau cheiro do que está por baixo é que impressionaram mal.