Reeleição de Lissauer Vieira tem a ver com a nova postura de independência da Assembleia e é irreversível, faltando apenas o apoio que Caiado, mostrando pragmatismo, deveria dar
Em uma operação montada com discrição e elaborada nos mínimos detalhes para ser 100% rápida e eficiente, a Assembleia começa hoje a desenvolver o cronograma para prorrogar até 31 de janeiro de 2023 mandato do presidente Lissauer Vieira – começando por uma mudança no regimento interno para antecipar a data do processo de escolha de junho do ano que vem para este mês de outubro e em seguida, no dia 29 ou 30, pela realização da reeleição propriamente dita.
É irreversível e tem como pano de fundo a nova postura que a Assembleia assumiu na atual Legislatura. Na noite desta quarta-feira, em um hotel na avenida Jamel Cecílio, 30 deputados se reuniram e assinaram um documento se comprometendo com Lissauer. Pelo menos três e talvez quatro, telefonaram para manifestar adesão ao projeto. Na sessão da tarde desta quarta, 17 de outubro, começa a votação da alteração no regimento, inicialmente sendo aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça e imediatamente pelo plenário. Alguns óbices, como um pedido de vistas, podem acontecer, mas no máximo atrasando em um dia ou dois a tramitação e não impedindo que tudo esteja liquidado até o último dia do mês.
A incógnita, agora, é a reação do governador Ronaldo Caiado. O bom senso e o pragmatismo recomendam que ele simplesmente manifeste apoio a Lissauer Vieira, reforçando os laços entre Executivo e Legislativo e garantindo a sua governabilidade até o final do mandato em clima de total estabilidade. Caiado tem experiência de sobra e mais ainda traquejo para entender isso. É o seu métier, como parlamentar que foi durante mais de 20 anos em Brasília. De resto, é imprescindível para qualquer governante contar com o presidente do Legislativo como seu aliado. É ele, o presidente, quem na prática atua como líder do governo, encaminhando e viabilizando de fato a apreciação positiva das matérias encaminhadas ao Poder ou então negociando soluções intermediárias. Foi assim, aliás, que aconteceu nas duas maiores vitórias que Caiado teve até agora na Assembleia, a ratificação da PEC da Educação e a liberação do acesso aos depósitos judiciais, que chegaram a contar com 31 votos favoráveis e tiveram o dedo de Lissauer Vieira – o dedo só, não, mas a mão, o braço inteiro e tudo o mais.
Se, de um modo geral, as matérias do Executivo sempre carregam algum toque polêmico, ao envolver decisões que afetam a população, o que Caiado tem pela frente nesse sentido é um cenário tenso e crítico – a reforma da previdência estadual, a ser enviada à Assembleia na semana que vem mexendo com os interesses dos servidores e destinada a provocar, quaisquer que sejam os seus termos, uma gritaria sem tamanho. Sem o apoio do presidente, dificilmente passa ou não passa de jeito nenhum. O que exige desde já, do governador, uma boa conexão e um relacionamento sem abalos com Lissauer Vieira. Essa aliança, em um certo sentido, é de interesse coletivo, ou seja, atende a demandas sociais e políticas da sociedade. A hora de pavimentar o caminho, portanto, é agora.