Informações, análises e comentários do jornalista
José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

31 mar

Ações solidárias de Caiado para a população expõem, por comparação, a insensibilidade e a ganância de Iris, do grande empresariado, da Enel, da maioria dos prefeitos e da Unimed

Não há como levantar uma vírgula para o desempenho do governado Ronaldo Caiado diante da pandemia do coronavírus. Suas ações de defesa e proteção das goianas e goianos são amparadas em fundamentos inconstratavelmente científicos, mas ele não está parando por aí: ao contrário, tem se desdobrado com decisões de solidariedade que são da maior importância, neste momento, e o farão credor eterno da gratidão e do reconhecimento de toda a população de Goiás.

Caiado mandou pagar em dinheiro para as crianças da rede estadual de ensino a merenda escolar. Adiou todo o IPVA do 1º semestre. Começa ainda nesta semana a distribuir 500 mil cestas básicas, cuja aquisição ele negociou pessoalmente com o setor supermercadista estadual. Aliviou as obrigações acessórias que os empresários são obrigados a cumprir com a Secretaria da Economia. Organizou a disponibilidade de 1.500 leitos para os pacientes graves de coronavírus. Suspendeu os cortes de fornecimento de água aos inadimplentes da Saneago. E, coroando tudo isso, está repetindo dia e noite que os segmentos sociais mais carentes precisam ser socorridos imediatamente, antes que a fome acabe provocando a quebra da ordem constituída.

É uma atuação modelar. E que, por comparação, denuncia a omissão de quem poderia estar fazendo o mesmo, ainda que dentro das condições de cada um. O caso mais sério é o do prefeito Iris Rezende, que baixou um decreto de calamidade pública e montou uma central de atendimento telefônico a dúvidas sobre o coronavírus – e lavou as mãos. A prefeitura da capital, cuja excelente situação fiscal vinha sendo cantada em prosa e verso, repetinamente passou a falar em dificuldades financeiras e virou as costas para as goianienses e os goianienses. Recusou-se a adiar o pagamento dos impostos municipais. Fechou os CMEIs e não ofereceu nenhuma solução alternativa para a alimentação de milhares de crianças. Não formulou nenhum programa de apoio a quem precisa (Salvador, por exemplo, vai pagar por três meses um auxílio de R$ 270 aos trabalhadores informais da cidade). Nem sequer está protegendo adequadamento os seus esquadrões de recolhimento de lixo, que continuam operando munidos apenas do equipamento tradicional (criminosamente, a Comug alega que disponibiliza álcool em gel para os lixeiros no início e no fim do expediente).

Na contramão da História, Iris segue falando em inauguração de obras, como se viadutos tivessem alguma importância ou servissem a alguma finalidade solidária no presente momento  de emergência. Lamentavelmente, a ganância fiscal da prefeitura de Goiânia se estendeu à maioria dos prefeitos, por esse Goiás afora, que não estão fazendo nada para contribuir com a luta contra o coronavírus e apoiar as suas cidadãs e cidadãos, preocupados apenas em preservar suas receitas. Em vez de cortar despesas, diminuir salários ou outros atos de sacrifício, preferem reclamar, em coro, da decisão de Caiado que adiou o IPVA (a que os municípios têm direito em parte).

Há exceções, é claro, e as principais são Aparecida e Trindade, que tanto repactuaram as datas de quitação dos seus tributos quanto lançaram programas para apoiar a população. Não está no mesmo caminho o grande empresariado, recolhido à defesa dos seus interesses, como sempre, e sem até agora um único gesto de grandeza em Goiás. A FIEG, poderosa representante do baronato industrial goiano, fez uma vaquinha há poucos dias e doou 100 termômetros para a Secretaria estadual da Saúde. Acreditem se quiser, leitoras e leitores: os supercapitalistas que se fartam dos incentivos fiscais estão limitados a essa única atitude de solidariedade com os seus consumidores, até agora. Outro comportamento deplorável foi o da indústria do arroz, que aproveitou a alta da demanda – via formação de estoques pelas famílias – para subir seus preços em mais de 30%, o que fez o pacote de cinco quilos do bilionário arroz Cristal subir de R$ 12 para R$ 16 reais nos supermercados.

Tem coisa pior, infelizmente. Uma delas é a Enel, que foi proibida pelo governo federal de cortar a energia de quem não pagar suas contas por três meses, porém não anunciou uma única medida de alívio por sua própria responsabilidade e até hoje não disponibilizou a anunciada autoleitura, com o claro intuito de ganhar tempo na cobrança da energia elétrica pela média dos últimos 12 meses – o que, obviamente, fará aumentar o faturamento da companhia. A Enel vai devolver o dinheiro depois? Vai. Vai pagar os juros desse “empréstimo compulsório”? Não vai. Por que a empresa italiana não dá a sua demonstração de solidariedade aceitando o menor valor dos tais últimos 12 meses, para acerto posterior da diferença, sem juros ou quaisquer outros encargos?

Vem agora a Unimed, maior plano de saúde em operação em Goiás. Com a quarentena, caíram a zero as cirurgias eletivas, as consultas de rotina, a procura pelos setores de emergência médica, os exames laboratoriais e, enfim, tudo o mais que os seus contratos asseguram aos usuários – só que as contribuições dos segurados continuam nos mesmos valores que eram pagos anteriormente. Isso significa que a empresa acumulará uma sobra de caixa de milhões e milhões de reais, pelo menos enquanto durar a quarentena, ainda mais que está definida a estratégia de tratamento dos pacientes de coronavírus, ao menos os graves, pelos hospitais da rede pública (os únicos que estão aparelhados corretamente para isso). Algum gesto de solidariedade entre os controladores da Unimed, em relação aos seus clientes? Nenhum. E nem sequer uma palavra de apoio ou de esclarecimento. Só o silêncio, como em todos os casos anteriores.

A pandemia do coronavírus trará uma consequência drástica para Goiás: com a exceção honrosa do governador Ronaldo Caiado, os donos do poder (público e privado) no Estado serão expostos como cruéis, impiedosos e, pior do que tudo isso, espertinhos que querem preservar as suas vantagens e ganhar dinheiro com o sofrimento do povo.