Legado de Iris é extraordinário, mas deixa também problemas gravíssimos para Goiânia e um deles é o enorme déficit de vagas nos CMEIs, em prejuízo das mulheres trabalhadoras
“No caso dos Centros Municipais de Educação Infantil, que são de responsabilidade das prefeituras, existia em Goiânia um déficit do ensino infantil, mas nós vamos zerar esse déficit até o final do nosso trabalho e dar continuidade a essa construção de escolas para o ensino fundamental”. A frase é do prefeito Iris Rezende e foi dita em meados de 2019. Mais de um ano depois, são palavras que devem pesar como um fardo nas suas costas, por um motivo muito simples: ele não cumpriu, diga-se de passagem demonstrando uma absoluta coerência com a sua trajetória de homem público que nunca deu importância para ações sociais e sempre privilegiou a construção de obras físicas.
Não é um mal em si. Porém, a falta de vagas em unidades municipais de Educação Infantil para que as mães trabalhadoras abriguem com segurança e qualidade seus filhos enquanto dão expediente profissional é dramática em Goiânia. De certa forma, representa uma afronta aos direitos humanos, em especial das mulheres. No atual mandato, Iris entregou 11 CMEIs, uma ninharia perto das necessidades dessa faixa da população: hoje, estima-se que no mínimo 6 mil crianças estão fora do sistema. Alguns candidatos a prefeito falam em 8 mil. O jornal O Popular pesquisou e encontrou um número bem maior: considerando-se os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC) 2019 do IBGE, a carência atual seria de 15 mil vagas.
Em meio a esses dados contraditórios, uma certeza: para resolver o problema, caberia à prefeitura construir entre 50 a 100 CMEIs. Isso é impossível. Não há recursos para tanto, ainda mais com o comprometimento do caixa com o pagamento das empreiteiras contratadas para levantar viadutos, reconstruir asfalto e outros projetos em que, bem ao gosto do prefeito, o ferro e o cimento são preponderantes. Como consequência, não há nada mais urgente e mais decisivo, em Goiânia, do que o enfrentamento ao déficit de vagas da Educação Infantil, mas, pelo menos da forma como a administração municipal foi conduzida nos últimos quatro anos, essa é uma prioridade que está longe de ser assumida.
Da boca para fora, alguns candidatos a prefeito falam em zerar o déficit, caso, por exemplo, do emedebista Maguito Vilela. Como prefeito de Aparecida, durante 8 anos, ele deixou para o seu sucessor uma estrutura improvisada de CMEIs conveniados com entidades filantrópicas, que foi ampliada por Gustavo Mendanha, enquanto ambos investiam o dinheiro na prefeitura na construção de um prédio faraônico para abrigar o gabinete do prefeito. O resultado é que hoje o buraco em Aparecida é proporcionalmente maior que o de Goiânia. Nem lá nem cá o desafio de atender no mínimo a 50% das crianças com idade até 3 anos até 2024, estabelecido pelo Plano Nacional de Educação, será vencido tão cedo. Não há tempo e nem muito menos fontes de financiamento, em especial quando os políticos estão preocupados com metas cuja realização possa garantir mais visibilidade. Com os CMEIs, isso não acontece.