Informações, análises e comentários do jornalista
José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

23 out

Um partido que passou 20 anos no poder e chegou a ser o mais importante de Goiás, o PSDB, agora tem um candidato a prefeito de Goiânia que crava de 0% a 1% nas pesquisas. O que aconteceu?

Todos sabem ou deveriam saber que o deputado estadual Talles Barreto é o candidato do PSDB a prefeito de Goiânia. E, igualmente, que o partido mandou em Goiás durante 20 anos, período em que chegou a ser a mais importante sigla da política estadual. Em alguns momentos, beirou a unanimidade, com o então governador por 4 mandatos Marconi Perillo alçado à condição de semideus e protagonista de tudo de média importância para cima que acontecia naquela época na sociedade e na economia.

Nas eleições de 2018, o PSDB enfrentou um revés de grandes proporções. Seus candidatos foram massacrados nas urnas: o próprio Marconi ficou em 5º lugar para o Senado, um único deputado federal foi eleito e apenas 6 ganharam para a Assembleia, dos quais dois já se transferiram para outras legendas. Zé Eliton, o candidato a governador, embora no cargo, amargou a 3ª colocação. Da noite para o dia, os tucanos goianos foram evaporados, com alguns poucos sobreviventes, dentre eles… Talles Barreto, que se elegeu e agora despontou como um dos 16 concorrentes à prefeitura de Goiânia.

Goiânia, como se sabe, sempre resistiu a Marconi e aos seus aliados. Com exceção da primeira eleição, em 1998, quando o jovem promissor derrotou a lenda Iris Rezende, o PSDB nunca mais ganhou na capital. Sistematicamente, as goianienses e os goianienses passaram a preferir os nomes da oposição em qualquer pleito majoritário. No entanto, ainda assim, caíam votos para o partido e seus representantes. Marconi, em 2018, teve 52 mil votos. Zé Eliton, 62 mil, ou seja, em torno de 10%. O próprio Talles, lembrando: para deputado estadual, faturou 3.500 votos – que agora, como candidato a prefeito, a considerar os insignificantes resultados apontados pela maioria das pesquisas, aparentemente estão desaparecendo.

Talles pontua 0,3% no Serpes. No Ibope, 0%. No Grupom, 0,7%. Em outros institutos menos cotados, não passa de 1%. Eleitoralmente, trata-se de uma miséria, normal e aceitável no caso de candidatos desconhecidos que se apresentam por agremiações piores ainda. Mas não quando se trata do outrora poderoso PSDB e do seu parlamentar mais ativo. Mesmo com todos os escândalos que enfrentaram, a exemplo de Goiás, os tucanos estão, por exemplo, em 1º lugar nas pesquisas em São Paulo, com Bruno Covas. Mas aqui o que está se aproximando é o maior desastre eleitoral que já acometeu um partido em toda a história política estadual.

Índices de 0% a 1% nas pesquisas, em Goiânia, correspondem a no máximo 6 mil votos, isso no maior colégio sufragante dentre os 246 municípios goianos. É uma soma, quanto mais baixa, que pode acabar enterrando a carreira de Talles, em vez de produzir o recall que ele provavelmente imaginou recolher com a candidatura, mesmo sem chances de vitória, mas com a possibilidade de um desempenho razoável em 15 de novembro. No passado, há deputados que fizeram o mesmo e em seguida foram tragados pelas consequências de uma humilhante derrota em Goiânia. Como também vai se sair mal, irremediavelmente, na eleição em curso, resta ao deputado resolver o desafio de sobreviver à hecatombe que recairá sobre a sua cabeça. A cruz que ele carrega, ainda que voluntariamente, é pesada e só em pequena parte é da sua responsabilidade. Os tucanos que o abandonaram, inclusive o ex-governador Marconi Perillo, é que são os culpados.