Excesso de Iris na campanha de Maguito, além de vender imagem fake de apoio, prejudica o MDB ao reviver o desgaste de 40 anos de rodízio Iris-Maguito não como continuidade e sim como continuísmo
Já são quase 40 anos desde que, em 1982, Iris Rezende venceu a primeira eleição para governador de Goiás a partir da redemocratização do país, iniciando um ciclo interminável de presença – seja no poder, seja fora dele – no palco principal da política estadual. Nesse período, Iris se revezou com Maguito ora como governador e senador ora como candidato majoritário em praticamente todos os pleitos e agora, como se vê, também na hipótese de um passar para o outro o cargo de prefeito de Goiânia.
É tempo demais. Que pode levar as eleitoras e os eleitores da capital a concluir que um pouco de renovação seria melhor que a perpetuação do círculo vicioso construído em benefício eterno das duas maiores figuras do emedebismo goiano, verdadeiros fósseis vivos de uma era que já passou no resto do país. Daqui para ali, a vitória pode justamente por isso cair no colo de Vanderlan Cardoso, ajudado pela campanha talvez equivocada que Maguito está fazendo, ao relembrar décadas e décadas de mãos e braços dados com Iris e a rotatividade perenizada em favor dos dois. Isso mesmo: quem sabe, em vez de mais do mesmo, seria mais positivo para a administração de Goiânia uma alternância capaz de trazer as mesmas vantagens que o governador Ronaldo Caiado trouxe para Goiás ao ser eleito em um processo de ruptura após quase 20 anos de poder do PSDB?
Basta assistir aos programas do MDB na televisão e acompanhar as redes sociais de Maguito para constatar que ele faz questão de se colocar como um prolongamento de Iris, embora este tenha se recusado a lhe dar apoiado e anunciado que sequer comparecerá às urnas para depositar um voto em favor do seu dito companheiro. Ou seja: é o candidato quem nega a si próprio qualquer vezo de independência e faz questão de realçar a sua sujeição perante o velho cacique do seu partido, chamando a atenção das goianienses e dos goianienses para a proposta de continuísmo que acredita ser a melhor para a capital. Sim, continuísmo, porque a gestão do Paço Municipal será, com Maguito, a mesma de Iris, sem Iris. Lá estará a maioria dos auxiliares que hoje trabalham para Iris. Os paulos ortegáis e os agenores marianos. O eleitorado, a partir dessas premissas, pode escolher um caminho novo e não a trilha batida das últimas quatro décadas, optando por um caminho que está estreitamente ligado a um conceito de continuidade, porém com sangue novo, conforme explicado a seguir.
De um modo geral, todos os postulantes que se comportam com seriedade na presente corrida pela prefeitura de Goiânia estão comprometidos – e não poderia ser de outra forma – em dar prosseguimento à gestão de Iris. Ninguém é besta para achar que esse é um direito de Maguito e que apenas ele concluiria as obras e manteria de pé os programas hoje em execução sob o comando do prefeito. Mais ainda: vale até dizer que “continuidade” é um aspecto menor dentro do conjunto de propostas de cada candidato porque é algo que automaticamente vai acontecer, para evitar prejuízos para a cidade. O novo significado da palavra, no pós-Iris, terá a ver com estabilidade administrativa. No momento, é uma jogada de Maguito para tapar o buraco aberto na sua campanha pela ausência de uma manifestação do atual prefeito.
Quanto mais Maguito fala em Iris e em continuidade, mais perde pontos. As pesquisas mostram que ele, Iris, é um líder que influencia votos em Goiânia, mas é claro que isso tem a ver com uma posição clara sua a favor deste ou daquele concorrente, qualquer que seja. Uma declaração. Um gesto. Um vídeo nas redes sociais e na TV. Nada disso existe e o que sobra da tentativa desesperada de burlar o eleitorado com peças de propaganda criando a ilusão de um apoio que Maguito não recebeu pode ser a sua caracterização como alguém que não se firma nas pernas que possui e precisa de muletas, expondo o cansaço de quase meio século de dupla dinâmica Iris-Maguito e Maguito-Iris, eu e ele, ele e eu. Para as urnas, pode ser a oportunidade de experimentar um prato diferente.