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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

18 nov

Eleição em Goiânia está totalmente distorcida com um dos dois finalistas internado em estado grave e sob risco de, mesmo se salvando, carregar sequelas que impedirão para sempre uma vida normal

Quanto mais grave o ataque da Covid-19, mais sérias são as sequelas para os pacientes acometidos, na maioria dos casos impedindo para sempre uma vida normal. Esse é o melhor prognóstico que se pode fazer hoje para o candidato do MDB a prefeito de Goiânia Maguito Vilela, em estado gravíssimo em uma UTI de um dos hospitais mais caro do país, em São Paulo, Espera-se que, com as bênçãos divinas, consiga melhorar o mais rápido possível, embora as expectativas infelizmente não indiquem esse caminho, já que se encontra com suas funções vitais executadas por equipamentos extracorpóreos – coração, pulmões e rins.

O padecimento de Maguito, não por sua intenção direta, distorceu completamente as eleições em Goiânia, ainda mais diante da manipulação ostensiva que o MDB e o filho Daniel Vilela fizeram e ainda fazem com a sua doença, em alguns momentos beirando a irresponsabilidade. Não pararam e continuam insistindo nessa estratégia, apesar dos esclarecimentos que finalmente chegaram, sob pressão, para evidenciar que o quadro de saúde do candidato é delicadíssimo, ao contrário de tudo o que foi dito durante semanas. Isso nunca vai ser esquecido e ficará na memória coletiva como um mau exemplo de comportamento político que optou pela desapiedada e arriscada exploração do sofrimento de um ser humano – e há algumas culpas, sim, nessa história, na medida em que Maguito foi levado, por imprudência própria, da sua família e do seu partido, a uma exposição em campanha eleitoral que previsivelmente abriu as portas para a infecção pelo vírus insidioso.

Em uma doença com a severidade da que arrasta Maguito, ainda que se salve, as consequências futuras serão pesadas. As chamadas sequelas incluem uma fragilização física que torna o organismo vítima fácil de uma série de males, sem falar em desdobramentos neurológicos que vão pela amnésia, insônia, fadiga crônica e uma infinidade de sintomas aliás descritos em uma ampla reportagem, nesta quarta, 18 de novembro, pelo portal UOL (veja aqui). A lista é extensa. O risco de morte passa a acompanhar quem vive uma experiência dolorosa como a de Maguito, se escapar e não passar a dar atenção total à sua saúde.

Tudo isso tem como resultado um painel de problemas para a gestão administrativa da capital, na hipótese bem concreta de vitória do MDB com um candidato que provavelmente estará incapacitado para uma vida plena, a menos que se beneficie de algum milagre e restabeleça sem maiores danos a sua incolumidade orgânica, o que é uma alternativa distante. Só a recuperação dos prejuízos trazidos pelos agressivos procedimentos mecânicos a que está sendo obrigado exigirá meses e meses de fisioterapia e outros treinamentos de reabilitação, até mesmo em relação a ações simples como respirar ou falar. Meses que poderão se prolongar por anos. Haverá um preço a pagar e a recomendação é que permaneça sob acompanhamento médico intensivo e não mergulhado em um trabalho complexo como a gestão da 2º maior máquina pública do Estado. Essa é a verdade. E o que Goiânia tem com isso?

Tudo. As coisas, na atual eleição, pegaram um rumo muito ruim. O pleito foi emocionalizado pelo calvário percorrido por Maguito, com os fortes estímulos da campanha do MDB e do filho Daniel Vilela, atrás de uma vitória a qualquer custo, mesmo sinalizando estragos para a população e ameaças ao bem estar do candidato. É preciso abordar esse assunto com clareza e até alguma coragem, afastando as paixões e os interesses mesquinhos de poder acima de tudo. Sobrevivendo e ganhando a eleição, o que Maguito terá pessoalmente pela frente? Uma trilha de sacrifícios que diminuirá as suas expectativas de vida, em não se cuidando adequadamente. Isso está errado e não pode mais ser ignorado.