Informações, análises e comentários do jornalista
José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

06 jan

Iris deixou a prefeitura sem um “fecho de ouro”, com a nova gestão comandada pelo vingativo Daniel Vilela decidida a passar uma borracha no que foi feito nos últimos 4 anos

Passada a primeira semana desde que Iris Rezende entregou as chaves da prefeitura para o prefeito interino Rogério Cruz, ficou um gosto ruim na boca: afinal, o velho cacique emedebista encerrou a sua gestão em um clima meio sem graça, passando longe, muito longe, de um “fecho de ouro”. A nova gestão colaborou. Em poucos dias, parece ter apagado com uma borracha macia a memória de Iris, quando não, em alguns pontos, aplicando um corretivo radical sobre as situações que foram o forte da administração encerrada e que agora já é classificada como “tempo de antigamente”.

Iris não recebeu a consagração que esperava. E, se depender dos donos do poder que tomaram conta do Paço Municipal, isso não virá. Não valem as manifestações explícitas de puxa-saquismo, livros laudatórios e as homenagens tão baba-ovos quanto sem sentido, como, por exemplo, as que o levaram às lágrimas na entrega fajuta do viaduto da avenida Jamel Cecílio, que só tem pronta a via superior, enquanto a parte de baixo é um canteiro desordenado e semiparalisado. Iris deve ter chorado de vergonha. Para piorar, os meios de comunicação ficaram repletos de reportagens mostrando uma multiplicidade de obras inacabadas ou inauguradas às pressas, com muito ainda a executar – a exemplo do viaduto da avenida Jamel Cecílio, cuja pista superior ficou pronta, mas com a parte de baixo seguindo em construção e longe do fim. Um horror. E sem que ninguém saiba, por ora, se haverá dinheiro para a conclusão neste ano. Mais: uma matéria de jornal mostrou que Iris não cumpriu nem 40% dos compromissos que fez na campanha de 2016, que, a propósito, foram mínimos (no máximo Iris fez 30 promessas).

Na área social, a gestão encerrada do Paço Municipal foi abaixo da crítica. Só na Educação Infantil, obrigação do município, existe hoje um déficit que pode chegar a 20 mil vagas para filhas e filhos de mães trabalhadoras. Em plena pandemia, a população carente não recebeu apoio sequer através de cestas básicas. Sim, é verdade que Iris fez uma gestão administrativa interna austera e deixou a prefeitura alinhada financeiramente, embora longe do paraíso anunciado, porém enterrou essa conquista ao baixar a guarda e aceitar sujar a sua biografia ao assinar na sua reta final a pedido da equipe do prefeito eleito Maguito Vilela o vergonhoso projeto que criou mais secretarias e 300 e poucos cargos comissionados com salários entre R$ 8 e 12 mil reais, inflando as despesas em quase R$ 30 milhões por ano. Diga-se de passagem: esse dinheiro, que seria suficiente para a construção de pelo menos seis CMEIs de porte, vai desaparecer pelo ralo das nomeações políticas da nova gestão.

Não é que a gestão que assumiu, ou seja, a de Maguito Vilela, sem Maguito, possa ser considerada de oposição ao governo que a antecedeu. Longe disso. Mas é fato que o projeto comandado por Daniel Vilela, enquanto o titular do cargo de prefeito segue incapacitado na UTI do Hospital Albert Einstein, não tem nenhum compromisso com o que foi feito nos últimos quatro anos. Críticas e denúncias, podem apostar, leitoras e leitores, ainda virão. Daniel Vilela, lembrem-se, é vingativo. Perseguiu impiedosamente os prefeitos que não apoiaram a sua candidatura a governador em 2018 e nunca digeriu a dubiedade de Iris, que fingiu avalizar ao seu nome e na prática reforçou a postulação vitoriosa do governador Ronaldo Caiado. A hora da revanche, e é bem provável que ele, Daniel, a queira, chegou, ainda mais sem o freio representado pelo pai.